quinta-feira, 24 de outubro de 2013

UMA SERRA VESTIDA DE OUROS



O filme da semana foi Serra Pelada, que de "pelada" não tem nada. É uma Serra vestida de muitas roupas douradas: roteiro, direção, elenco, fotografia... Heitor Dhalia acertou em tudo.

Primeiramente, este filme foi a prova inconteste do talento de Wagner Moura - se é que alguém ainda duvidava dele. O camarada pode ter uma ou outra cena no trabalho que for, que ele vai chamar a atenção. Como um dos produtores, ele atua pouco em quantidade, mas incomensuravelmente em qualidade. Claro que não contei, mas num filme de quase 2h, se ele aparece em 10 cenas, é muito. Mas ele manda, e o resto obedece, literalmente! Pra se ter uma ideia, o mais fraco (lê-se: básico) é  Matheus Nachtergaele. Sophie Charlote e Júlio Andrade (o Gonzaguinha, do filme ´Gonzada, de pai pra filho´) também estão enormes em cena; e, pasmem, até Juliano Cazarré deixou pra trás a canastrice habitual (vide o tal Ninho, de ´Amor à Vida´) e está dando conta do recado. Quando um ator assim me surpreende, reconheço o mérito dele, mas também vejo refletidos os méritos do diretor. Um bom diretor sabe espremer o que nem o ator sabe que tem pra dar, ainda. Um bom diretor é a melhor escola para um ator.

Serra Pelada é mais um filme que opta por usar uma questão social importante como gancho para o lado pessoal, para focar no reflexo disso no ser humano; e deu certo. A opção pela narração também é boa, pois é no limite certo, e ainda economiza tempo de duração do filme. Mas, claro, há quem pense que diálogos mais profundos são sempre melhores, ainda que precisem esticar a película. Tudo bem, cada um se agrada mais de uma forma que de outra, mas é importante ressaltar que a narração não é exagerada, e também não ocupa espaços de grandes cenas.  

O roteiro traz imagens reais da exploração da maior mina de ouro já descoberta no país misturadas às fictícias; e em meio aos 4 anos que engloba (1980-84), conseguiu passar por tantos temas na medida certa: ganância, banditismo-faroeste, prostituição, homossexualidade, a chegada da Aids, a malária, contravenções das mais variadas - dignas de famosos filmes de máfia. É mais um filme histórico muito bem feito, em todos os detalhes, que vale muito a pena ver. É aula de História do Brasil, e de história do Cinema no Brasil, que está ficando cada vez melhor, se mantendo no mais alto nível técnico-criativo.  

A cada filme que passa, mais ansiosa eu fico para chegar logo a vez do meu...

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