quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Porque isso é 

"GOZTAR" 


Não sei gostar sem gozar. E se gozo é porque gostei. Sei gostar no passado e no futuro, sei gozar no claro e no escuro, portanto, fidelidade e conforto são coisas que jamais lhe cobrei. Nossos mistérios nunca esconderam a sua poligamia mental, e sempre nos bastou um simples e arruinado cantinho de parede. Mas, por tantos anos, esconderam roupas rasgadas que não deveriam estar ali - pelo menos não ao mesmo tempo que as nossas. Porque eu gosto que sua efervescência carnal, ao menos ali, nos seja sui generis... Gosto do exclusivo, gozo no particular! 

Não sei gostar sem gozar. E se gozo é porque gostei. Sei gostar pagando e recebendo o troco, sei gozar dando as costas ou tronco-a-tronco, portanto, fantasias ou padrões são coisas que jamais lhe cobrei. Nossos dogmas nunca esconderam a ruidosa tradução entre a língua de partida e a língua de chegada, e sempre nos fora comum suar pelos olhos e chorar pelos poros. Mas, por tantos anos, esconderam um intercâmbio vazio, e uma rota de fuga que não deveria existir ali - pelo menos não do seu lado. Porque eu gosto desse nosso arquétipo particular compartilhado, dessa nossa oscilação estável que, ao menos ali, não pode cessar. Gosto do discrepante, gozo no peculiar! 

Não sei gostar sem gozar. E se gozo é porque gostei. Sei gostar de combater e cometer um crime, sei gozar parada ou correndo contra o tempo, portanto, compostura e pressa são coisas que jamais lhe cobrei. Nossos abismos nunca apartaram os atritos. Sempre fomos indigentes intelectuais mendigando algum sentido e migalhas de um segundo a mais. Mas, por tantos anos, esconderam a marca da Besta, uma queloide cardíaca que não deveria estar ali - pelo menos não no meu lado. Porque eu gosto desse nosso paradigma alucinante, dessa nossa alternância em nos comunicar. Gosto do café e do almoço, mas só gozo no jantar!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A MAL-HUMORADA DA ACADEMIA 
(gestação, nascimento e batismo) 

Há alguns meses, numa consulta periódica ao ginecologista, veio a prescrição: você vai ter de entrar pra academia!!! Como eu sei que a Academia Brasileira de Letras não acolhe ninguém por ordem médica, não tive dúvidas de que ele estava falando, sim, da tradicional academia de marombados. A razão da recomendação era a imediata necessidade de fortalecer a lombar e a musculatura pélvica. Apesar disso, fiz "ouvido de mercador". Mas não muito depois, no consultório da gastroenterologista, de quem fui buscar ajuda por conta de um refluxo, recebi a mesma ordem, só o motivo era diferente: esteatose grau 1. Eu tinha de queimar gorduras, pois elas já estavam se acumulando no fígado. "Ouvido de mercador 2, a missão", é lógico! Mas nem 3 semanas depois, tive de voltar ao ginecologista por conta de entrega de exames, e o insistente me vira e fala: aposto que está gostando da academia!!! ... Isso é impossível!!!, respondi, sem deixá-lo sequer desconfiar de que não tinha ido lá nem pra perguntar o preço. Mas não dava pra fazer "ouvido de mercador 3, a missão continua". Começava ali uma gestação das mais enjoativas. E como toda gestação, um dia ia ter que resultar num parto. 

Queria aproveitar ao máximo esse "parto" pra, sim, partir pra longe daquilo tudo e continuar a malhar o intelecto e o Espírito como eu sempre fiz. Mas porque sabia que não podia fugir, fiz o que me coube: adiei ao máximo. Como isso tudo se deu em Maio/Junho, não titubeei, e joguei logo pra 2016. Só que quando me proponho a algo, mesmo odiando eu sigo rigorosamente. E assim, em 2/1/2016, nasceu A Mal-Humorada da Academia

Ela nasceu dia 2 porque dia 1 era feriado. Mas enquanto eu planejei um parto particular, chique e confortável, a coisa não foi bem assim. A malhação do dia 2 foi pior que a malhação do Judas. Eu nunca me senti tão exposta. A Academia particular fechou antes do horário anunciado no site, e eu aproveitei que já estava paramentada, e parei pra malhar no PEC (ponto de encontro comunitário) que fica a exatos 200 passos do meu apartamento. Não contei de propósito, contei porque senti profundamente cada um deles depois dessa estreia na Partolândia do Mundo de Saade

Só tinha eu no momento em que "montei" no tal "simulador de esqui" (heim??? Quem diabos esquia em um país tropical e numa cidade desértica como Brasília???). Por um instante, achei ótimo, pois assim eu não ia ser a chacota do pedaço. Eu só não contava com os carros. Cada um que passava, fitava os olhos em mim, de certo porque apostavam que eu fosse cair, devido ao óbvio e escancarado desequilíbrio sobre o aparelho. Meu labirinto já não é dos mais colaborativos, e aliado à falta de prática, então; mas apesar do mico e das dificuldades, eu estava indo muito bem... Até um peão num Fiat podre de velho passar e gritar gostosaaa! Saí de lá tão rápido, e com apenas 15 minutos de "trabalho de parto". O "período expulsivo" foi a jato, e me deu a certeza de que não farei atividade física em público nunca mais na minha vida. Era o terceiro item a se juntar à lista de coisas que eu impus como condições básicas e inegociáveis. As duas que encabeçam a lista são: JAMAIS acordar cedo para malhar; e JAMAIS usar meião até o joelho ou estampas selvagens. 

Mas se o nascimento foi traumático, o batismo me surpreendeu. Totalmente ao acaso, no segundo dia, encontrei no caminho a minha querida amiga Moça da Bicicleta, em quem tanto me espelho pra essa nova fase. E já na academia, igualmente por acaso, encontro meu Médium de Transporte, e faço metade da série ao lado dele. Eis os padrinhos da Mal-Humorada da Academia, pois só eles mesmos pra cuidarem dela tão bem, e de forma tão compreensiva. Do padrinho, ganhei uma confortável carona pra casa; e na pausa pra repor as energias gastas, volto a ver a linda madrinha. Interessante saber que o acaso não existe. Aliás, se não fosse pela carona, que me fez tomar banho em casa, eu teria começado em maus lençóis. Na minha mochila tinha xampu, condicionador, escova e... Mais nada! Não estava levando toalha e nem uma muda de roupa limpa! A pessoa um dia antes já queimou calorias, e alguns neurônios!

Algo me diz que não, não vai ser fácil... Se eu "vingar", volto mês que vem pra contar!