GRAVIDADE é perder este filme!
Há muito, criei um código de classificação para filmes e
peças de teatro: o critério ABCD em níveis 1-2-3... A, de “1-Amei, 2-Adorei,
3-Alucinei”; B de “1-Bacana, 2-Bom, 3-Básico”; C de “1-Chato, 2-Cansativo,
3-Caótico”; e D, de “1-Dormi antes da metade, 2-Desisti no Trailer,
3-Desesperador”. GRAVIDADE, para mim, é um autêntico filme A2. Primeiro
porque adorei, e também porque, sim, só há de fato dois personagens na história.
É comum ver peças de teatro com apenas 1, ou 2, ou no máximo 3 atores; já
filmes, nem tanto. O longa do diretor mexicano Alfonso Cuarón é um destes
filmes que poderia acabar mais cedo “por falta de elenco”, mas não é apenas por
isso que ele é raro. Ele é atípico em tudo que mostra, e,
portanto, surpreendente... O filme começa com Sandra Bullock, George Clooney e
Ed Harris – que só diz uma frase, e eu só soube que se tratava dele graças aos
créditos. Somente eles, e um bando de vozes vindas da Terra, do centro de
controle espacial da NASA, em Cabo Canaveral. Vozes baixas, abafadas, exatamente
como são ouvidas em missões assim. O diretor nem sequer se preocupou em
depurá-las para facilitar o entendimento do público. Ele quis realismo puro, e
conseguiu. Imagino que no original, que não tem legenda, muita gente ficou
comendo poeira cósmica, boiando no espaço sideral, sem entender o que se dizia.
Falando em espaço sideral, o cenário só não é um buraco negro, um vazio
colossal, porque o planeta visto do lado de fora preenche magnificamente nossa
visão. Se bem que todo o aparato de sondas e telescópios também é grandioso, mas
o interessante é que as menores partes deste todo são as que, verdadeiramente,
mais se destacam.
A falta de gravidade física é inversamente proporcional à
gravidade da situação em que se encontram estes dois astronautas e a engenheira,
que estão fora da nave explorer para reparos no telescópio Hubble e são
atingidos por uma tempestade de lixo espacial, fruto da destruição de um
satélite por um míssil russo, que achava se tratar de satélite espião. Ed
Harris é o primeiro a, literalmente, ir pro espaço (melhor dizendo, continuar
nele), restando apenas Clooney e Bullock. Escapar da tempestade não era garantia
alguma de sobrevivência. Sem comunicação com a Terra, com pouco oxigênio e quase
sem combustível no propulsor externo, o perrengue intergaláctico do casal de
LINDÍSSIMOS protagonistas (e únicos personagens!) estava só começando. Como
voltar pra casa, sendo que o principal equipamento de viagem fora seriamente
avariado?
Não vou mentir pra vocês, o filme tem 2 cenas apelativas, sim; e uma
totalmente inexplicável – que ou passou despercebido pelo roteirista, ou foi
proposital para ir mais além. Mas é só! E isso porque nada é perfeito. Porque
fora esses casos (que não vou revelar quais, pois faço críticas, não divulgo
spoilers), o filme é uma curta prova de resistência. 1h30 de tensão que vão por
seu coração a prova. “Agoniante” seria o adjetivo mais propício para definí-lo.
Tecnicamente, ele tem tudo no lugar; e olha que não vi a exibição em 3D,
que, dizem, é a melhor já feita desde Avatar. O texto é curto e grosso, aliás,
eu diria até que “eles falam demais” para quem tem de economizar no oxigênio,
mas o que falam é justamente o que conduz o filme, o que justifica e alimenta o
instinto de sobrevivência.
Bullock prova mais uma vez que não é apenas um
rostinho maravilhoso, mas sim uma atriz talentosa e muito bem preparada,
disciplinada. Um corpo impecável e ágil para quem chegará aos 50 em plena Copa
do Mundo. Isso é fruto de consciência do que é a profissão, que o corpo é um
objeto de suma importância; mas a composição psicológica da personagem também, e
ela não deixa a desejar em nada. Falando em “nada”, Clooney também não muda
nada: continua o mesmo galã de E.R, mas serve bem para a ocasião. Duvido que a
Nasa tenha um astronauta tão charmoso e sedutor, mas já que a beleza é um
chamariz, nada mal!
GRAVIDADE é um filme de ação e de suspense que, graças
a Deus, mesmo tendo dois símbolos sexuais no elenco, não caiu na besteira de
inventar um romance-astral pra estragar tudo. Um filme rico em detalhes, que são
uma atração a mais – como as lágrimas da engenheira Ryan, que sobem e
flutuam; bem como os focos de incêndio, que saem dos fios e passeiam pelo
interior da sonda. Sensacionais!
Este quase-monólogo cinematográfico com uma das
minhas atrizes favoritas desde a minha infância foi uma das atrações do meu fim
de semana. Escolha uma sala e aproveite você também. Ah, vá ao banheiro antes,
porque nada vai te fazer querer sair antes de acabar.
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