quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O mundo só precisa dos POETAS


Algo mais que se precise, 
Em qualquer aspecto, 
Além da divina Clarice Lispector?
*
De que serviriam o calendário
E todos os dias da semana
Se no mundo não houvesse 
Mário Quintana?
*
Yo solo hablo
Él ni siquiera me saluda
Quién más lo haría todo  

Además de Pablo Neruda?
*
Se algum mal te acomete
Não encha a cara de chopp
Sente e vá ler um livro 
De Elizabeth Bishop
*
Ou dance feliz de sapatilha
Ou só rodopie até 
Que te desmanteles
Ou troque isso ou aquilo 
Por tão somente Cecília Meireles
 *
Não te salves
Rasgue a carta de alforria
E vá curtir um longo exílio
Ao lado de Gonçalves Dias
*
E não será preciso um centavo
Nem um segundo de um tic-tac
Assim que voltares a viver
Na Pátria de Olavo Bilac
*
Acorde sem demora
Saia ao sol que te ilumina
E agradeça muito a Deus por
Cora Coralina
*

Quando a Aquarela
Atravessar a nuvem branca
Ali haverá de brotar
A grande Florbela Espanca
*
Ao meio dia, siga cantando
Para que mais longe se soa

A alegria em dose tripla
Do fingidor Fernando Pessoa

Assim, sobreviva ao susto
Do soar de tantos banjos
Na que fora a última quimera
Do hipocondríaco Augusto dos Anjos
*
Embarque no primeiro bonde
Para longe de toda Saudade
Desfrutando da ilustre companhia
De Carlos Drummond de Andrade 
*
Ponha nos fins, meios e inícios
Samba, Beleza, Amor a mais
Pois fundamental mesmo
É Vinicius de Moraes

*
E viva a metamorfose!
Entre no casulo, e brinque
Que só assim é que se pode
Ter o bigode
De Paulo Leminski


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

 O AMOR JÁ NASCE PRONTO!





Ainda inspirada pelo "Efeito Pietro", do post passado, acordei pensando no Amor outra vez. Acho que já se trata de um costume, algo natural. 

Pensei em algo bem específico, que é a ideia que tantos fazem de que "o Amor vem com o Tempo"... Sempre que eu digo que amo alguém, um outro alguém geralmente diz "mas você mal conhece a pessoa!". Ô, amigo, o Amor já nasce pronto! Com o Tempo, ele até pode aumentar, ou diminuir consideravelmente de intensidade; mas ele já nasce pronto! A raiva, a mágoa, o rancor: essa turma, sim, depende do Tempo e da Convivência para se construir. Uma pessoa precisa errar muito para ir limando o Amor que você já tem pronto por ela; e para isso, os longos anos de proximidade são fundamentais. 

Uma pessoa precisa apenas existir, ainda que só na sua mente, para você amá-la. Simples assim! Já para detestá-la, ela precisa se esforçar o mínimo. Pode ser que ela capriche tanto logo de saída, que nem serão necessários tanto Tempo ou tanta Convivência para se fazer um Castelo de Mágoa, e ali aprisionar o Amor. Mas, como com Rapunzel, enclausurada na torre, o Tempo ajuda suas tranças a crescerem, possibilitando uma saída. Daí por diante, a escolha é sua: viver na morada do rancor, ou voltar ao ponto de partida. 

Ô, amigo, o Amor não vem com o Tempo. No máximo, ele volta... 

D>       

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

PIETRO, O ELEVADOR E O AMOR...

Crônica da rotina de um Amor real

2/1/14. Após uma "vesperançosa" sensação de felicidade, e uma confortável noite de sono, nem o fato de ter de trabalhar tão cedo tirou meu humor (já que há muito fiz um acordo comigo mesma de não reclamar dos privilégios dos quais gozo na vida, e ter um trabalho que me sustente é o maior deles). A falta, muito comum, do ônibus que pego também não foi capaz de mudar meu estado de espírito, e como nada é mesmo por acaso, foi justamente a falta deste transporte coletivo que me fez ver a cena mais legal do dia, protagonizada por Pietro, um garotinho lindo de 4 anos. 

Quando ainda estava na parada, chega um casal jovem com dois filhos pequenos, e algumas mochilas; aparentando estarem indo viajar. A mãe perguntou a mim e a uma senhora se o ônibus dela já havia passado, e como já havia, ela se dirigiu com a família para o metrô. Eu e a senhora fomos no vácuo, pois, àquela altura, o nosso também havia nos deixado na mão. 

Na entrada da estação, o casal foi se despedir, pois ele, munido de um violão, seguiria para outro lado. Na hora do beijo, a linda cena. Pietro, enciumado, deu um tapinha no pai e disse "Ei, sai, "isso" é o meu "amô"!", e se agarrou à perna da mãe. O casal nem reparou nele, em sua expressão linda misturando ternura com a raiva provocada pelo ciúme, e pouco pareceu valorizar o gesto, mas eu reparei e fiquei encantada. Descemos, esperamos o trem chegar, e entramos no vagão. Quando o metrô partiu, Pietro quebrou o silêncio com um "tchau, papaaai!", acompanhado do aceno. O pai já estava para trás há muito, nada viu ou ouviu daquilo, mas com certeza sentiu a energia. Não resisti e tirei uma foto dele escondido, e depois lhe joguei um beijo e sorri. Mesmo não me conhecendo, ele sorriu de volta. Inocência e Amor são mesmo um par perfeito.

E quando ainda trazia Pietro na memória, com sua demonstração de Amor, chego ao trabalho e vejo mais pegadas deste nobre sentimento no elevador. Corações de papel espalhados no chão. Estranhei o local, mas deduzi que provavelmente haviam caído da bolsa de alguma pessoa que, como eu, chegava ao trabalho depois de um reveillón marcante, com beijos, abraços, espumantes, e chuvas de prata e de corações. Ela provavelmente guardou o Amor na bolsa, e não porque achasse que, se não fosse assim, ele se perderia. Guardou conscientemente como uma "lembrança" do momento; e instintiva e inconscientemente, para dar a ele a chance de continuar a se espalhar...

Hoje foi dia de ver o Amor às claras, em suas mais variadas e singelas formas. E como não poderia deixar de ser, estou aqui ajudando a espalhá-lo. Eu sempre digo que as histórias que invento são geralmente mais bonitas e interessantes que as que vivencio, mas hoje foi o contrário. Se bem que tenho de reconhecer que todas as histórias que invento são sempre inspiradas em histórias reais. E nada mais real, e lindo, e inspirador que o Amor.

Sigamos o exemplo de Pietro, e amemos muito mais em 2014, e em 2015, 2016, 2056, 2099...