quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

~Assim SOUL~

Hora do inventário dos bens imateriais. É preciso falar do patrimônio emocional, mental e espiritual. Inventar bens onde só há males. Inventariar os “tem” que vieram dos “vales”, e se dar conta do que realmente vale nesta Vida!? Em qual idade a qualidade do Ser Humano chega ao ápice? E de que é feito (e efeito) é o defeito de cada um? Cheguei ao ápice do declínio desfilando na calçada uma Tristeza com pedigree. Caí na real, e gastei muito Real pra levantar. Perdi horas olhando uma pilha de tijolos pensando “são construção ou ruína? Começo ou fim?”. Recomeço, então...E recomeço pelo cabelo! Que quando dá nós, nos lembra que somos laços. Minha pele e meu pelo: casas dos meus apelos. Minha história com meu cabelo não caberia num post, e sim num livro, pois é história longa, embaraçada, ora presa, ora solta, às claras, obscura ou disfarçada: uma história de Vida.

Rejeitei-o e maltratei-o por tanto tempo sem desconfiar que rejeitava e maltratava a mim mesma. Se meu cabelo chamasse atenção, era eu quem estava sendo vista (e eu me escondia). Não o priorizava, pois não me priorizava. Achava-o horrível porque me achava horrível. Só dava a ele o básico (limpeza!), pois achava que eu só merecia isso. Quando o arrancava, era querendo arrancar o "mal" de mim, e o meu lado ruim. O prendia porque temia me soltar, e também porque tinha medo de alguém “puxar a minha rédea”, e, assim, me machucar, me parar à força, me derrubar. Mas, para além do Medo há o amadurecimento preciso (de precisão e de necessidade), e a felicidade “prometida” e merecida.


Quando o lavava, achava caídos na peneira do ralo “pensamentos e sonhos” que julgava ter perdido, mas que foram salvos e guardados. Ninho dos apegos, daqueles bens imateriais que tinham medo de se perder, de morrer, ou serem esquecidos. Meu viver, meu respirar, meu fazer, meu doar, meu saber, meu sonhar, meu rugir, meu chorar, meu prazer, meu gozar, meu beijo, meu rezo, minha Poesia, TUDO passa por ele, e permanece nele, até eu decidir quais manter e quais deixar ir... Porque penso o Mundo diferente daqueles que o pensaram antes de mim, por tanto tempo vi isso como afronta e ofensa, e até falta de humildade. Mas entendi enfim que não preciso pensar sempre igual por lealdade, e nem sempre diferente só por rebeldia. Eu tenho apenas que PENSAR...  

Cortar meu cabelo bem curto era me diminuir, me menosprezar, me esquecer, e até me eliminar. Por tanto, tentei esconder meus defeitos; e achava que meu cabelo era o maior deles. Tentei mudá-lo, escondê-lo, e ele só me provava que eu jamais conseguiria nem uma coisa nem outra. E agora, quero mostrá-lo tal como é: cheio (de conteúdo!), tem clareza e também escuridão, tem um lado liso e um cacheado, é grosso, mas tem leveza; enfim, não dá pra rotular minimamente. É contraditório, mas é em essência BOM! 


Tantas vezes o chamei de “ruim”, e ouvia dos profissionais que “eu não sabia o que era um cabelo ruim”. Realmente, não conhecia quase nada de mim. E a parte que melhor me define (mesmo na aparente indefinição) e me resume tão completamente é o meu “pelo”. Querer “maquiá-lo” às vezes, ok, mas sem nunca esquecer como ele é em essência; e ver beleza nisso é me aceitar como sou. E aceitar sobretudo o meu poder. O cabelo é para tantas culturas e religiões um símbolo do sagrado, da conexão com o divino, e do acesso a esse poder. Sansão tinha sua força no cabelo, Rapunzel escapou da prisão através de seu cabelo, os Avatares se conectam ao Todo através do cabelo. 

No inventário dos bens imateriais, o grande guardião deles me fez descobri que o maior bem que tenho é Ser Quem Sou, e Como sou!