segunda-feira, 15 de julho de 2013

A "CIRANDA" DE CADA UM DE NÓS


Teatro do Leblon, sábados (19h) e Domingos (20h) até 4/8


Pode-se viver mais de 100 anos ou nem sequer 1 minuto... Não importa o tamanho do caminho, ele sempre parte do mesmo canto e chega no mesmo lugar... Quem viver mais de 100 anos viverá inúmeras coisas, mas quem viver apenas por 1 segundo viverá o essencial; pois basta isso para se conhecer o Amor Incondicional entre Mãe e Filho... Nossa vida começa, continua, e recomeça sendo simplesmente assim... A gente pode nunca conhecer um pai, pode ter fortunas, perdê-las, recuperá-las, ou sequer ganhá-las uma única vez. A gente pode nascer numa guerra, rodar o mundo em busca de paz, mudar governos, ver tantas coisas se criarem, se acabarem, ou tão apenas mudarem; mas em qualquer que seja a realidade, uma MÃE e seu Amor sempre vão existir. Uma mãe é sempre uma certeza, ainda que cresçamos sem saber quem ela foi um dia. Uma mãe, aliás, nem precisa gerar um filho pra ser uma mãe, tamanha é sua importância, pois é dela que a gente recebe a única coisa que de fato precisa! A única diferença é que ou isso é reconhecido logo de cara, ou precisa de um tempo e um caminho meio tortuoso para se fazer reconhecer. E não importam os atalhos, o caminho é igual para todos. E no fim é sempre assim: ele é reconhecido! E é a fonte primária dessa nossa “mania irritante de achar que no fim tudo dá certo”. 

Em CIRANDA, peça teatral de Célia Regina Forte, 3 gerações de mulheres e seus pesados conflitos mostram o tamanho do esforço que fazemos para destruir o único laço que de fato há entre nós. Mas um esforço que no fim serve apenas para escancará-lo e fortalecê-lo. Tânia Bondezan e Daniela Galli vivem mães, filhas e neta separadas por ideais e modelos de vida que as fazem crer que não se parecem em nada, que sequer têm algo em comum. Num texto absolutamente brilhante, a autora não divaga, nem voa longe, ao contrário: apenas nos relata o óbvio. Sim, o óbvio, Aquele que tantos insistem em não entender simplesmente pelo exemplo, que tantos precisam ver para crer, e viver para entender. Então, se há coisas que a gente tem de ver e viver, não há forma melhor que o TEATRO para nos proporcionar isso. 

O Teatro é o fim onde tudo dá certo. O lugar mágico onde se vive qualquer coisa ignorando as regras do Tempo e os caprichos da Lógica, na arte de viver mais de 100 anos em um único segundo. No Teatro, a gente entra incompleto e sai remendado. A gente entra ferido e sai curado. A gente entra com um problema e sai levando a solução... Teatro é aquilo que a gente tem que fazer, que tem que ver, e rever, e refazer, e seguir adiante fazendo, refazendo, vendo, revendo, vivendo e revivendo... Teatro é o lugar onde você para de respirar e não morre, ao contrário: renasce. Onde as limitações do corpo desaparecem... É o lugar onde você se vê fora do corpo, se chama por outros nomes, se vê mais velho, ou mais novo, e é onde se tem todas as chances de errar e reparar o erro imediatamente, sem consequências ruins. Só no Teatro que a Ciranda de outros, e de "outroras", nada mais é que a ciranda de cada um de nós! 

Com duas interpretações no mínimo magistrais, mas no fundo indescritíveis (nesta linguagem que estranhamente criamos para nos limitar), a gente passa a se chamar Lena, Boina e Sara sem qualquer estranheza. A gente é rippie em qualquer época, executiva de merda, aderecista teatral, mas tudo de passagem, tudo como uma maquiagem que se põe e se apaga; porque a gente é mesmo - do inicio ao fim - MÃE, FILHA, e NETA. A gente foi mesmo feito pra sentar no chão e jogar gamão, e rir da vida da gente; e não pra jogar banco imobiliário e sentar numa cadeira de couro ou no colo dos outros e estragar tudo! A gente nasceu pra querer guardar pra sempre um ursinho de pelúcia, principalmente em fotografias mentais, algo que a gente chama de “lembrança”. Algo que se o Cérebro apagar um dia, tem o Coração ali pra não deixar esquecer jamais. 

A única coisa que a gente precisa pra viver é também a única que nunca acaba. A dor acaba um dia, o dinheiro e o poder podem nem sequer chegar, mas o Amor nunca acaba, e se adapta a qualquer situação. Só o Amor nos basta, e só ele pode conseguir pra nós qualquer outro resto que julgamos precisar, sem nos cobrar nada em troca. Sim, sem cobrar nada! Você dá tudo que tem nos bolsos pela chance de ouvi-lo, mas vê que no fim o que você recebeu de volta é algo que não veio pelo preço que se pagou. É algo que nasce de graça e se aprende de graça, ainda que no meio do caminho o dinheiro se faça necessário. 

Célia, Tânia e Daniela souberam nos mostrar tudo. E eu, ainda bem, pelo menos soube entender...