O Filme "CASEIRO"
mais profissional que já vi!
Eu sei que às vezes sou acusada de ufanista/xenofóbica, e que, por isso, sempre protejo tudo que é local. Não. Procuro ser justa, e nunca levo em conta simplesmente a nacionalidade pra decidir se defendo ou ataco algo - e nem mesmo se assisto ou não. Mas, sim, quando ouço que nosso cinema "ainda tem muito o que aprender com Hollywood", me relo nas ventas com a moléstia do cachorro louco! Mas simplesmente porque cada um é cada um. Hollywood tem um estilo (ou vários estilos dentro dele), o cinema europeu tem outro(s); o indiano, outro; o latino-americano... O africano... O asiático... Assim como o cinema brasileiro! E em todos os estilos, erros e acertos. Eis o que têm em comum.
Já vi produções estrangeiras excepcionais e produções nacionais tipo "vergonha alheia", E VICE-VERSA!!! E ultimamente, independente da nacionalidade, tenho sido seletiva quanto a gênero e temática. Comédia besteirol, eu evito. E suspense/terror, eu, se possível, vou logo na pré-estreia. Mas bons suspenses são produções mais presentes nos cinemas internacionais, então, quando li sobre O Caseiro, e vi o trailer, já vibrei por antecipação. Eu sabia que tinham de fazer um trabalho de roteiro muito, mas muito ruim mesmo pra estragar a coisa. E duvidava que isso pudesse acontecer. E duvidei certo...
Antes de assistir, procurei - mesmo sabendo que seria sugestionada, positiva ou negativamente - ler e ouvir muitas críticas a respeito. E foi então que, finalmente, entendi o porquê de me acusarem de ufanismo. Posso dizer que 90% das críticas que li deixavam clara essa visão de "o cinema nacional ainda engatinha". Quem engatinha, ainda, é uma boa parte do público/crítica, que parece não estar preparada - nem disposta a aceitar nossas produções sem preconceitos. Muitos já partem do pressuposto que "não vai prestar", e, quando vêem que sim, presta!, se mostram surpresos como quem vê uma raridade. Raridade nada! Há uns bons pares de anos que raro tem sido o filme realmente ruim. E O Caseiro, pra mim, chegou pra "lacrar geral" e confirmar isso.
Em um suspense, ou o roteiro é realmente bem escrito e bem amarrado, ou "Adeus!". E é ele quem suplanta as imperfeições técnicas que o filme carrega, a ponto de nada conseguir de fato invalidá-lo. Instigante, ele já se apresenta como um leque de caminhos, e todos plausíveis. Você tenta dizer "é assim", ou "não, é assado", ou ainda "nem assim, nem assado", e acha sentido pra qualquer um. É assim que ele te prende até o final, quando só então se tira a prova dos nove. O que mata é a tal comparação com thrillers hollywoodianos, porque, como disse no princípio, são estilos diferentes, e um não tem de copiar o outro. Então, quem espera sustos homéricos, a la Invocação do Mal, vai se decepcionar; mas ainda assim, não deixará de ver ótimas cenas tipicamente fantasmagóricas, tensas, e muito bem montadas, mesmo em um timing diferente também do esperado - afinal, o filme passa mais da metade focado no psicológico do que no terror sobrenatural em si.
Bruno Garcia, que além de protagonista é produtor associado, mostra que não é simplesmente um galã. Na trama, ele é Davi, um professor da faculdade de Psicologia, que escreveu um livro sobre as aparições sobrenaturais através da psicanálise; e que é chamado por Renata (Malu Rodrigues) a ajudar a irmã, Júlia, que está sendo, aparentemente, atacada pelo fantasma do caseiro da família, que se matou anos antes na propriedade. Cético e científico, Davi decide investigar almejando escrever outro livro sobre o caso em questão, caso este lhe interesse.
Daí, entram em cena, primeiramente, o roteiro e a direção da dupla de jovens - e promissores - irmãos, Felipe e Julio Santi. O filme segue numa crescente, partindo do thriller psicológico até o desfecho quimérico (o tal do timing ao qual me referi acima). Vai do suspense ao terror numa costura precisa, sem a linha do clichê escancarado (eu disse "escancarado", porque clichês sutis sempre há)... Leopoldo Pacheco e Denise Weinberg são Rubens e Nora, pai e tia das meninas. Suas reações faciais e corporais dizem muito, mas sem entregar nada antecipadamente. Dá pra perceber que eles sabem mais que revelam, e não à toa são as peças-chave do desfecho. Assim como roteiro e direção, esses três atores são o ponto forte da trama. Já o elenco infanto-juvenil deixa um pouco a desejar nas cenas mais tensas. E a aparição relâmpago da médium confunde um pouco o espectador, pois sua expressão facial é um tanto maléfica que acaba levando a crer que ela seja a responsável por tudo, quando não é. Do jeito que ficou, pareceu dispensável sua aparição, bastando apenas as menções a ela feitas - ainda que suas presenças tenham trazido um ar de mistério e medo... Quanto à fotografia, é de fato incrível. Elementos como névoa, reflexos e vultos só são usados quando realmente necessários, e fazem a diferença, pois deixam no espectador a dúvida se aquela cena está se passando no Além ou no lado de cá... A trilha sonora, confesso, me passou batido. Estou, nesse quesito, tipo a Glória Pires na apresentação do Oscar: "Não posso opinar!" (mas, se tivesse sido um problema, acredito que eu a notaria, então, ponto positivo).
O Caseiro mostra bem o que falta ao cinema nacional: boa vontade do público em apreciá-lo sem preconceitos. Não faltam às produções nacionais mais "esmero" e "qualidade", como muito se afirma por aí. Não. Isso, temos de sobra. Falta quem acredite, apoie e incentive esse mercado. Falta quem o trate do mesmo modo que os demais são tratados. Sempre haverá filmes falhos e filmes impecáveis em qualquer idioma. Aqui não é diferente. E a julgar pelos últimos anos, quem souber ser receptivo terá inúmeras surpresas e grandes satisfações.
Comecem por O Caseiro. E passem também por Nise - O coração da loucura, por Flores Raras, por Que Horas Ela Volta?, por Isolados, por Lavoura Arcaica, Central do Brasil, Terra em Transe, Terra Estrangeira, Abril Despedaçado, Bicho de Sete Cabeças, Dona Flor e seus Dois Maridos, O Auto da Compadecida, e... Se eu continuar, não saio mais daqui (embora deseje exatamente isso!).
Até a próxima, e boa sessão a todos!
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