segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

~Entre Pedras, Cadernos e Amores~


Por tantas vezes, caminhei caçando sombras para dar a elas os raios de Sol que trazia nos bolsos... Eram passeios por sobre as pedras e sob Silêncios, algumas vezes registrados em papéis... E quando meus silêncios cruzavam com tantos outros silêncios, me perguntava quais mistérios cada um trazia... Seriam os mesmos que os meus? Quais desejos enfeitavam as paredes de cada Universo, e quais cores, tempos e dimensões eles tinham? Mas, mesmo que eu perguntasse, respostas nunca vinham...

E agora, em uma nova estrada, a caçar novas sombras pra clarear e colorir, achei respostas que sequer precisavam de perguntas! Hoje, sei exatamente quais os raios de Sol que trago comigo, e quais somas de afetos constroem meu arco-íris: VOCÊS!!! 

Vocês são meus casamentos, minha maternidade, meus versos, minhas vaidades, a organização do meu caos, o papel de parede florido da minha gaiola de ouro... Vocês são meu Mapa Mundi, são cada roupa que visto pra conquistar cada sonho, e cada sapato que nivela cada curva dessa estrada. 

Nas regiões da minha Solidão, tudo o que fiz foi desenhar letras unidas, ora em microscópios utópicos, ora em abissais colossais. E foi assim que escrevi a receita da mais milagrosa analgesia...

Tudo que eu sei é que, seja no Norte ou seja no Sul, vocês são aquela mistura deliciosa de prosa cor-de-rosa com poesia azul!!!

Dani
Leca
Samara
Mercês
Verônica
Clara
Rosi
Lidiane
Candice
Kátia
Marina
Iza






quinta-feira, 23 de novembro de 2017

~ GUTO E O BALÃO ~

"Acorda, menino, que os sonhos do lado de cá também são muito bons"


Guto sempre gostou de Sonhar!

Quando bebê, ele dormia demais, sempre esboçando um sorriso no rosto. Durante anos, sua cama foi palco de batalhas épicas, de viagens interplanetárias, de espetáculos de dança, e pelo menos uma final de Copa do Mundo por semana. Acordar, pra ele, sempre foi a maior de todas as torturas. Quando chegava a hora da escola, e o despertador tocava, Guto entendia por que aquele objeto tinha o nome que tinha: ele "desperta a dor" que mora nos que não podem mais sonhar... 

Ainda muito pequeno, já trocava qualquer tempo livre por um cochilo, exceto quando seu avô estava por perto. “Acorda, menino, que os sonhos do lado de cá também são muito bons", dizia o vovô Johnny sempre que via o neto de olhos fechados. A Fazenda Ilusão era mesmo um sonho à parte, e Guto sabia disso desde muito cedo. Foi lá que virou amigo inseparável de Utopia, uma galinha das mais "conversadeiras", e também de Quimera, uma lebre agitadíssima; companhias perfeitas pra estripulias e peraltices de todos os jeitos. 

Seus nomes foram duas coincidências interessantes. Quando criança, Guto se chamava de "Uto", pois ainda não sabia falar o "G". E sua galinha de estimação ainda era uma pintinha bem piadeira, que ele amava imitar. “Agora essa! Uto pia o dia todo, quem aguenta?", disse a vovó às gargalhadas; o que inspirou o vovô a batizar a amiga piadeira do menino sonhador com o sugestivo nome de Utopia. Com a lebre, foi bem parecido. Muito rápida, ela corria demais, e o menino corria atrás sem conseguir alcançá-la de jeito nenhum, dizendo “espera, espera!". Como ainda era pequeno demais, parecia dizer "imera, imera", e o vovô, mais uma vez, associou o nome da amiga a algo bem típico do universo dos sonhos, chamando-a de Quimera. 

Guto, Utopia, Quimera e vovô Johnny eram o autêntico Dream Team (O Time dos Sonhos). As brincadeiras iam de mergulhos nas 20 mil léguas do laguinho das piabas até a construção de um Super Balão, que levaria os quatro aonde quer que eles quisessem ir. 

Vovô pediu à vovó alguns retalhos, linhas, agulha, barbantes e cola. E da sua oficina, pegou alguns pregos, parafusos, e uns bons pedaços de madeira. Utopia bicava as madeiras até fazer furinhos por onde passariam os barbantes, Quimera roía as bordas para um perfeito encaixe das toras, enquanto Guto e vovó costuravam os retalhos. Demorou um longo tempo, mas num finzinho de tarde, ele ficou pronto. A noite veio, e o encantamento de todos era imenso. Era tão agradável, que decidiram acampar ao lado pra ficarem mais tempo contemplando o Expresso Fantasia. Acenderam uma fogueira e ali permaneceram por horas, admirando cada pedacinho, só esperando o dia amanhecer pra saírem voando.

Foi então que todos pegaram no sono, menos Guto, que não resistiu e decidiu deitar sobre a grande pedra que havia se tornado a base do balão, e ficar bem embaixo do imenso pano colorido, só imaginando onde seria o primeiro lugar pra onde iriam. Mas de repente, um vento forte soprou por ali, passou pela fogueira e levou o fogo todo pra dentro do balão, fazendo-o voar, e voar e voar, cada vez mais alto e cada vez mais longe...

"Deu certo! Deu certo!"

Guto era o retrato mais fiel da felicidade. Ele via o mundo cá embaixo ficar pequeninho, enquanto seu sonho ficava cada vez mais imenso, a ponto de não se ver o fim. Mas ele não queria sonhar só. Nunca quis. Ele queria seus avós, Utopia e Quimera bem ali com ele, mas não sabia como voltar pra buscá-los. Foi quando ele teve uma ideia: dormir pra poder sonhar com mais força ainda, e fazer o balão voltar pra fazenda pra buscar todo mundo. Funcionou! Quando ele acordou, todos estavam com ele, e também seus pais e sua irmã.


“Entrem, entrem logo, é muuuito legal lá em cima. O Sonho é tãããooo grande, vocês vão adorar conhecer! Vamos!!!” 

Guto não entendia por que eles só choravam e riam ao mesmo tempo, e o abraçavam apertado, como se comemorassem o feito; mas não queriam subir no balão. 


“Está quebrado, meu amor. Não vai mais funcionar, esqueça isso!”

Sua mãe, aliviada por ter o filho de volta à terra firme, tentou convencê-lo a sonhar apenas sob a supervisão de seu travesseiro, e Guto ficou inconsolável. Queria a ajuda de todos pra reconstruir o balão, e não entendia o medo deles, mesmo de Utopia e Quimera. Não teve outra escolha senão catar, sozinho, cada retalho, cada pedaço de barbante e começar a reconstruir sua máquina mágica, até que percebeu que um sonho sonhado por tantos nunca poderia ser realizado apenas por um. Ele precisava arrumar um sonho que fosse só seu, mas sabia que a lembrança daquele dia não poderia se perder jamais...

Guto colou cada pedacinho dos retalhos e dos barbantes reproduzindo a imagem do balão na maior parede de seu quarto, fazendo de seu cantinho um lugar de sonhos de olhos fechados e sonhos de olhos abertos. E em cada pedacinho de retalho feito papel, ele anotava seus desejos – os antigos e os que iam surgindo a cada noite – ora com as letras, ora com desenhos, para retratar aqueles sonhos que só a gente sabe “ler”, portanto, palavras de nada adiantam. E quando enfim não havia espaço para um rabisco sequer, Guto percebeu que uma coleção de sonhos nada mais é que uma grande conquista; e que sonhar, por si só, já é viver um sonho.

Nasceu, se espelhou numa Utopia, perseguiu incansavelmente uma Quimera, e cresceu... E enfim entendeu que se o sonho nunca sair do papel, tudo bem, é só aprender a amar o papel, a colori-lo com esmero, a colar partes que rasgaram, a desamassar e restaurar os mais antigos, porque há sempre mais de uma maneira de se sonhar o mesmo sonho. 

Se um sonho nunca sair do papel, tudo bem, é só levar consigo partes dele na mochila para ter sempre o cheiro, a textura e as cores de cada momento, porque cada momento é único!

Por isso, aquele balão nunca mais voou, mas também nunca deixou, e nem deixará de existir... 



”Se um sonho nunca sair do papel, tudo bem, é só aprender a amar o papel” 

Maria Eduarda Novaes

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Portadora de Necessidades Espirituais
(como é ser uma deFÉciente)

Eu julgo que sim, sou deFÉciente! Eu carrego uma crença que sabe que é cega de um olho, surda de um ouvido, manca de uma perna, e tantas vezes incapaz de brilhar no escuro...

Minha FÉ sabe bem que já é uma senhora idosa que nunca chegou à puberdade; que se curva diante da Vida por culpa de um bico-de-papagaio (daquele que só sabe repetir padrões); e mora num armário de costura, a colecionar milagres esmigalhados e pedaços de papéis rasgados exibindo desejos riscados, passando os dias a remendar tudo com linhas mais resistentes...

Minha FÉ é apelido de Febre, que me sobe de repente, esquentando a cabeça, escancarando os poros, e vazando linfas por todos os orifícios. Uma força que já vestiu camisola de hospício, e que quando ora, ora lubrifica, ora seca meus olhos, como quem mira o Solstício...

Minha FÉ entende bem - mas preferia ignorar - que não há fórmula única que sirva a todos, que não há uma resposta universal que responda a qualquer pergunta, e que nem mesmo ela fala todas as Línguas. Por isso, já gastou muito dinheiro à toa tentando aprender com o espelho dos outros, mas também se desfez de outros tantos na certeza de ter o que ensinar! Porque ela quer ajuda, mas também sempre quis ajudar... 

Minha FÉ troca os turnos regularmente: dorme à luz da razão, e acorda na sombra da dúvida, onde, aliás, já realizou muitos sonhos que sequer ousou sonhar minimamente. Já colocou sal no suco, seguiu quem se autodeclarou `perdido´, decorou um livro escrito em páginas em branco, confundiu justiça com vingança, e tomou banho de inseticida como forma de descarrego... É pedra mole embaixo de água dura, e vê nisso um aconchego! 

Mas minha FÉ 
Tem dia que extrapola, 
E legaliza a Brisa... 
Só que, indecisa, 
Termina por voar 
Trancada na gaiola! 

É que ela se vê tão pequena e frágil, com direito a apenas duas letras, quando merecia carregar o alfabeto inteiro dentro de sua invisível sacola! 

...Mas é que isso de cuidar do Depois nunca depôs sua fixação por não dar um passo sem explicação! Por isso, a minha FÉ é uma membrana fibrosa, é uma brega das mais estilosas, é uma ciência humana que sabe ser exata, só não sabe exatamente quando ser... Minha FÉ já foi a Cruz de quem chegou ao apogeu. 

É cada partícula de lembrança das coisas que todo mundo esqueceu!

Maria Eduarda Novaes

sexta-feira, 2 de junho de 2017

~A CAIXA DE PANDORA~

Ela sabia que dentro de si carregava uma caixa com tudo: dores, rumores e amores. As dores só lhe traziam lágrimas, os rumores só lhe traziam medos, mas os amores lhe traziam bonança, segurança e esperança... Por tantos anos, Pandora sabia que se abrisse sua caixa por míseros centímetros em meros segundos, poderia ao fim reter apenas as dores ou apenas os rumores. Reter os amores, como desejava, seria uma loteria na qual ela não queria confiar. Ou melhor, querer ela queria, mas não conseguia confiar... E tantas foram, então, as artimanhas que Pandora criou para tentar enganar a Probabilidade. A primeira foi maquiar as dores e os rumores pra que a todos parecessem amores. As lágrimas passaram a cair sobre sorrisos, e os tremores do medo viravam pulos de euforia. Assim, acreditava ela, poderia enganar até mesmo os próprios sentimentos, que não mais se reconheceriam no espelho, entrariam em crise existencial, brigariam entre si; e nesse mata-mata, só restariam os amores, pois "o Amor sempre vence", não é? Mas logo viu que isso não deu nada certo, porque todos ainda sobreviviam, e os amores passaram a lhe doer, amedrontar, e isso tanto lhe confundiu a mente. Ela então chorava sem saber o porquê, sentia dores onde antes só reinavam torpores e suspiros, e estranhamente sentia amor por coisas que só sabia desprezar. Pandora então acabou com as maquiagens, e as dores voltaram a ser só dores - assumidamente fortes - e os rumores praticamente a congelavam, mas os amores ganharam novas faces. Ela custou a entender e a aceitar que eles literalmente se misturaram aos demais, e, dali por diante, as dores sempre lhe trariam lágrimas, os rumores sempre lhe trariam medos, mas os amores também lhe doeriam e estagnariam. Pandora passou a sentir medo do amor e a sofrer com ele, e assim ela não via mais vantagem em reter nada, pois nada mais era puro e inconfundível. Valeria mais a pena deixar tudo ir embora, e, da mesma argila com que fora feita, criar novos amores, e jamais ousar criar dores e rumores. Pandora então liberou suas lágrimas, seus medos, e suas bonanças, seguranças e esperança; pegou uma porção de sua própria argila e começou a modelar... Mas modelar o quê? E como? Ela não tinha nem mais lágrimas pra umedecer a argila, e muito menos ideias, desejos, nada! Ela não tinha nada mais!!! Foi o bastante pra entender que os medos, as dores e as lágrimas estão num trabalho de parto não à toa. Nada nasce antes deles, e nada nasce sem eles. Pandora entendeu também por que é depois da tempestade que vem a bonança, e não o contrário - que essa ordem nunca se inverte - e tudo lhe fez sentido. Dói pra abrir, e dói pra fechar. Dói manter aberto e vazio, e dói manter fechado e retido. Tudo dói, e tudo faz molhar, mas dor não mata ninguém, e dor não seca a gente. Rumores podem virar verdade pra uns, mas morrer rumores pra outros. E amores têm a cara, e as maquiagens, que damos a eles. Dores são inerentes, rumores são intermitentes, mas os amores sempre serão tudo, porque os amores são permanentes!

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Hoje, eu fiz um aborto!


A cada manhã, a mesma rotina: eu te gestava, te alimentava, te sentia mexer em mim, e, assim, mexer comigo... Te levava pro meu banho, depois à praia, e dirigia meu carro com a consciência de que, agora, era você quem estava dirigindo a minha Vida. Eu passei a voar onde antes mal caminhava, pois a cada passo era uma queda livre. Porque você me afagava, passei a respirar onde antes me afogava; e meu sono enfim me fez dormir após aquele pesadelo contínuo que não me deixava acordar. E enquanto eu ia me doendo aos poucos, percebia você se doando; e via o tempo passar e você crescer a olhos vistos... Até que chegou o dia de você chegar por completo. Era o dia de nascer. Era o dia de eu me doer como nunca, me contorcer, quase me arrepender, mas ser recompensada por ver seu rosto, sentir sua carne, e te alimentar de tantas outras formas. Mas eu só ia me contorcendo, me arrependendo, quase agonizando, e você não chegava... Eu já tinha o espaço arrumado pra te receber, a comida pronta, ouvia e sentia seus sinais, mas o tempo ia passando e ao invés de ficar mais perto, tudo ficava mais longe... Fui pedir ajuda! No caminho, virando a esquina, esbarrei em outra barriga d´água, como a minha, pendurada em um rosto amargo, sofrido, a segundos de sucumbir... Um espelho!!! E enquanto o encarava, uns me gritavam "é verme", outros diziam "isso não é nada, não". Até que o espelho quebrou, atingido por uma pedra, o que me tirou do transe. "Ei, moça, isso é uma Ilusão", ouvia uma voz turva atrás de mim. Me virei. "Já gestei várias", ela continuou, "e elas não chegam, elas partem". Perguntei se elas partiam de nós ou se nos partiam. E só de perguntar, eu mesma respondi. E foi ali, no meio da rua, ao meio-dia de outono, com as folhas fazendo cama para mim, que fiz meu primeiro aborto afetivo!

...E a cada manhã, a mesma rotina: eu me gesto, me alimento, me mexo, me limpo, dirijo tudo, voo alto, respiro fundo, durmo e acordo comigo, e cresço por inteiro a olhos vistos!

Me doí, mas me curei. E nunca mais precisei fazer um aborto...


Maria Eduarda Novaes

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

~ de apelido "Roda-Viva" ~

(ATENÇÃO: contém Spoilers)


Se alguns infernos fossem mesmo provisórios, tudo seria mais fácil. E se alguns redemoinhos um dia se dissipassem de fato, também. Mas nem todo inferno é provisório, e alguns redemoinhos são mais que rodas-vivas: são rodas eternas.

O filme Redemoinho, de José Luiz Villamarim, com um elenco estelar, foi inspirado em contos do livro Inferno Provisório, de Luiz Rufatto; mas a mim, me pareceu uma transposição pro cinema da música Roda-Viva, de Chico Buarque de Holanda, onde só sua primeira estrofe resume tudo: tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a Roda-Viva, e carrega o destino pra lá! 

Os amigos Gildo (Júlio Andrade) e Luzimar (Irandhir Santos) passaram anos sem se verem. O primeiro se mudou pra São Paulo, ficou bem de vida, enquanto o segundo ficou em Cataguases/MG vivendo uma vida bem simples. Até que na noite de natal, eles se reencontram e percebem que, perto ou longe, em uma cidade grande ou numa província, o fantasma de quem partiu/morreu os estagnou - cada um a sua maneira - e ainda os assombra. Ambos tentaram deixar o passado realmente pra trás, mas o Redemoinho que os engolia só então fora percebido por eles. O tempo rodou num instante! E, como em toda roda, tudo volta ao ponto de partida. 

A dinâmica de um redemoinho foi a mesma de seu roteiro. Um redemoinho centraliza tudo, sugando e prendendo as coisas ali, mas sem deixar de mostrar o quadro amplo de suas bordas e meandros geradores dessa força centrípeta. Gildo e Luzimar são o centro da tragédia que vitimou Marquinhos, que enlouqueceu seu irmão, Zunga (Démick Lopes), e que estagnou a vida da mãe deles, Bibica (Camilla Amado). São também o centro da solidão de Dona Marta (Cássia Kis Magro), mãe de Gildo; da mudança de vida de Toinha (Dira Paes), esposa de Luzimar; e também da vida de Hélia (Cyria Coentro), irmã de Luzimar, e o grande amor de Gildo. E com a trama centrada neles, os demais se desenvolvem de uma forma bem peculiar: seus enredos são contados com excessiva presença de sons e imagens que atuam como sub-textos e mensagens subliminares. Sim, a fotografia e o sonoplastia são narradores secundários extremamente importantes na história. O trem, por exemplo, sempre passar quando é preciso quebrar os silêncios, e também em momentos de conflitos, amplificando seus "barulhos". O rio, a chuva e a ponte assumem a narrativa em flash-back de Marquinhos, Bibica e Zunga; enquanto a apatia, as caras e bocas, e as poucas palavras (em outras palavras, o talento absurdo de Cássia e Dira) assumem os destinos de Dona Marta e Toinha...Todos os elementos do filme são narrativos, e tudo converge para Gildo e Luzimar, mesmo parecendo ser Zunga o olho deste furacão, a "carregar a loucura de todo mundo nas costas", e só querer "ser normal de novo". 

Em redemoinhos não há reviravoltas, não há controle, há entradas, mas não saídas, e sobra tensão. E é nessa tensão constante que o expectador é mergulhado, e só não sucumbe de fato porque as levezas humanas, tão presentes neste roteiro, são o bálsamo que o mantém respirando na superfície - e ensinando que um redemoinho não necessariamente significa uma sentença de morte para todos os capturados por ele... Um filme que vale muito a pena!

Maria Eduarda Novaes