~O Silêncio do Céu~
Dizem que o silêncio, além de prevenir problemas, é o melhor remédio contra todos os males. Talvez seja por isso que a máxima de "colocar uma pedra em cima do assunto" seja tão comumente usada. E em O Silêncio do Céu, essa metáfora foi concretizada.
Carolina Dieckmann é Diana, uma brasileira radicada no Uruguai, mãe de dois filhos pequenos, que, junto à outra brasileira, trabalha como designer de moda. Diana é violentada por dois homens dentro da própria casa; e em seguida, demonstrando estranha normalidade, liga para Mário (Leonardo Sbaraglia) pedindo a ele que pegasse as crianças na escola.
O que o público até ali ainda não sabia é que Mário - o marido que até minutos antes de a película começar era o ex, que havia voltado pra casa dias antes - tinha visto tudo, e até tentou reagir, mas por ser um colecionador de fobias, foi incapaz de tal feito, e passou a se culpar. Além da culpa, passou também a lidar com o silêncio sepulcral da mulher. Sem entender como alguém pode fingir que um estupro não aconteceu, o roteirista profissional se aproveita de seu ofício para primeiramente achar respostas e, então, escrever um personagem vingativo e vivê-lo além dos limites.
A essa altura, você deve estar dizendo "pare, volte, me atualize! E a tal da metáfora concretizada???". Pois bem, obrigada pela lembrança! Assim que Mário percebe que a mulher está sendo violentada, ele pega uma pedra grande pra usar como arma, mas essa pedra vai parar em cima da mesa da sala, e lá permanece até a última cena. Dias vêm, dias vão, a família passa por ela inúmeras vezes, e lhe é totalmente indiferente. Agem como se não percebessem um elefante sentado no sofá da sala, e que sentou ali de uma hora pra outra. Diana não tirou a pedra porque ela representava seu silêncio. Mário não tirou a pedra porque ela abafava o barulho desnorteante dos medos que o atormentavam e incapacitavam desde criança. E os filhos não tiraram a pedra porque pra eles ela não significava coisa alguma. Mas essa não é a única metáfora concretizada ali. Os cactos são quase um grupo de atores coadjuvantes que representam toda a verve psicológica adotada pelo roteiro e pela direção. Chave do mistério, essas plantas tão presentes no enredo simbolizam a adaptação e a resistência perante condições inóspitas e até drásticas. É um cacto que fere Mário durante o estupro de Diana (o colocando talvez numa condição igual a dela). É um cacto que encanta os filhos do casal pela possibilidade de "se mexer", e trazer alguma novidade a suas rotina tão pacatas. O trabalho de Diana é baseado em cactos, e é por meio de uma metáfora que alude aos espinhos que ela finalmente extravasa sua dor, num único e raro momento de transparência emocional.
Filmado em dois idiomas, e em dois pontos de vista! Representado por um elenco estelar, o Silêncio, astro principal do filme, ao fim simplesmente transita. O que era apenas de um, passa a ser de ambos. Y la nave va...
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