terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Nós Poetas somos atemporais. Aliás, não só não temos idade, como não temos sexo, não temos gênero, nem muito menos algemas, só asas. Prova disso é que Chico Buarque representa a minha infância, adolescência e juventude, sua inspiração assina a co-autoria de cada poema de Amor que escrevi, e isso sem eu estar perto de ser sua contemporânea. 34 anos afastam nosso nascimentos, mas seus 50 anos de carreira cabem em qualquer fatia de Tempo da Vida de qualquer um.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
O Colecionador de Amnésias
E tudo o que lhe restava era aquele cantinho de parede quase em ruínas, marco zero de uma rota de fuga que ele não se lembrava mais onde ia dar. Ele tocava cada centímetro buscando ler nos rejuntes descascados alguma pista que o ajudasse a não se perder ainda mais. Vivia ali uma solidão vigiada, onde observava os transeuntes baterem ponto nas cercanias a expectá-lo, a apostar se havia enfim chegado o dia em que ele daria um passo a frente... Mas tudo o que lhe bastava era colecionar ali indícios a serem decifrados no momento seguinte! Uma pétala de rosa morta fora posta ali por quê? E há quanto tempo jazia a resistir ao vento, às chuvas, aos dedos intrometidos dos transeuntes? Aquele pedaço de papel verde com marcas de batom havia chegado depois de qual noite? E de qual boca ele provinha? Ele se esqueceu de tudo, e funcionava naquele automático que diariamente o carregava cego, surdo e mudo até ali, e tão somente até ali. Esqueceu nomes, telefones, cores e formas, só não se esqueceu do medo de avançar, pois o medo insistia em acompanhá-lo independente do porquê...
Até que um dia, no comecinho do fim de um ano qualquer, as horas decidiram acordá-lo mais cedo, e o vento enfim moveu aquela pétala morta, e de quebra também o seu medo tosco. O vento carregou aquela folhagem e empurrou aquela coragem antes em coma profundo. E atrás daquelas árvores, túmulos. E dentro daqueles túmulos, memórias. Lembranças soterradas, resumidas a nomes e datas, cobertas com flores mortas, algumas sucatas, e nada mais. Os transeuntes aquele dia circulavam por lá. Cada um desencavando suas memórias e buscando enterrar outras que não lhes serviam mais. E os papéis então se invertiam. Era ele, e tão somente ele, o expectador daquele intercâmbio vazio, um surto coletivo diante de fatos que gostariam de ver desmentidos...
Até que ele se lembrou justamente disso: do quanto algumas lembranças pedem para ser esquecidas, pois não sabem ser futuras; urgem pelo próprio fim assim como as dores clamam por suas curas... E dali ele seguiu, em marcha a ré, contra o vento, de volta ao ponto de partida. Posto que tudo o que lhe bastava era seu reconfortante acervo de Inexistências, a tornar eternamente faltante aquela que vinha a ser sua maior Ausência!
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Eu te Rejeito,
Em nome do Bento Pai, do Doce Filho, e do Espírito Santo!
Eu te Rejeito
E te exorcizo
Em nome da Santa Cruz!
Tendo a meu lado
A população mineira em ação,
Eu te Rejeito,
Maldita mineração!
E mesmo sob a Regência triste
De uma araponga,
A barra vai ser dura, pesada
Vai ser uma Barra Longa
Mas eu barro teu barro em Oração!
Eu te Rejeito,
Eu te combato,
Precita omissão!
Se o fundo do teu poço tem Fundão
A jorrar lama que varre a Mata
E também mata Mar & Ana
Lama que espalha
Todo tipo de podridão,
A barra vai ser dura, pesada,
Vai ser uma Barra Longa,
Mas eu barro teu barro em Oração!
Eu te Rejeito,
Tu e este teu Marco que não Vale nada!
Que se priva de prevenir
E mais ainda de remediar tua pobre Mãe,
Por ti soterrada, mas não vencida...
Rejeito quem com Ferro fere
E com Mercúrio, piora a ferida!
De que Vale mesmo privatizar?
Vale tudo até não restar nada!
Vale transformar um leito fecundo
Num estreito moribundo
De cada espécie devastada!
De que Vale mesmo privatizar?
Vale transformar o Mundo no Imundo;
E o que é de todo mundo,
Numa verdadeira
PRIVADA!
maria eduarda novaes
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
~UMA SAUDADE BOA DE SE SENTIR~
Alguém de quem gosto taaaaanto - pra DêDel mesmo! - hoje mexeu com as minhas Saudades, aquelas tão boas de se sentir... Senti saudade do tempo em que lhe escrevia cartas e enfiava nas gavetas, primeiro porque achava que jamais chegariam ao destino; ou, se chegassem, soariam como um desatino... Senti saudades dos dias em que lhe preparava um presente curtindo a vibração do primeiro encontro, e alimentando a empolgação do reencontro onde eu, enfim, iria presenteá-la... Senti o cheiro do papel cortado (sim, papel cortado tem cheiro! Pelo menos pra mim!), e também da cola. Pude ouvir o barulho do durex, e da tesoura que não parava de cair... Conhecer a história de algo ou alguém que tanto se gosta e admira é um privilégio de poucos. É um privilégio porque têm de se convergir tantas variáveis, o que faz disso algo raro e especial. Sair do sonho sonhado para o sonho realizado exige muito mais que imaginação e esforço próprios: exige uma dose de energia que nunca virá de você. Virá da Sorte - quando vier de algo; ou de um outro Peito - quando vier de alguém... Tudo que sei é que a Energia que se originou dessas tantas que se convergiram aqui ainda não se dissipou, aliás, sei que não hão de se dissipar nunca, porque jamais vou parar de alimentá-la. Isso porque ela não é só minha, é dela também! É, talvez, o presente mais significativo que posso lhe dar em troca depois de tudo o que já recebi! E de tudo, claro, sempre há de nascer algum Poema...
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Quebra-Cabeça / Cola-Coração
...Se o Amor é um Quebra-Cabeça? Acho que até pode ser! Mas não sou do tipo que acredita que "só é Amor" apenas quando todas as peças se juntam. Não, não é assim! Basta uma peça e já é Amor, e sabe por quê? Porque essa peça jamais pertencerá a nenhum outro lugar. Ela não se encaixará em outro canto senão ali. Então, sim, uma só já basta!
Basta um olhar, que já é Amor! Basta um sorriso, que já é Amor! Basta um abraço... Basta um beijo... Basta um cheiro... Um sussurro... Um gemido... Um suspiro... Basta tão somente um Imaginar! Basta uma única palavra do enredo! Basta, simplesmente, um simples e inocente Segredo...
sábado, 22 de agosto de 2015
Vera VOLTZ
Um COQUEtel de energias
Minha diversão da hora é beber de um coquetel energético pra lá de inebriante. Melhor dizendo, "inebrilhante"!!!
Coincidência ou não, comecei a escrever este post no computador do trabalho, quando de repente... Puff... Ele pifou!!! Bem como o de um colega! "Oscilação na corrente", confirmou o técnico, algo que eu já desconfiava. Só me restou rir e tentar dimensionar, ainda que minimamente, o poder e o alcance dessa mulher, dessa atriz, desse ser humano fantástico que é Vera Holtz.
Coincidência ou não, comecei a escrever este post no computador do trabalho, quando de repente... Puff... Ele pifou!!! Bem como o de um colega! "Oscilação na corrente", confirmou o técnico, algo que eu já desconfiava. Só me restou rir e tentar dimensionar, ainda que minimamente, o poder e o alcance dessa mulher, dessa atriz, desse ser humano fantástico que é Vera Holtz.
Há pouco tempo, ela entrou no universo do Facebook, e seu perfil tem sido então minha visita diária obrigatória. Minha e de mais de 110 mil seguidores, interessados em nos tornar 220...Voltz, como ela!!! Somos uma legião de pessoas em busca de recarregar as baterias numa original e criativa corrente cujo cerne, eu diria, é o Coque. Sim, o Coque. Vera escreve e protagoniza uma série chamada "Para que serve o famigerado Coque?", onde já pendurou, além de sua coroa básica, os balões e a vela de seu aniversário, o carregador do celular, e sacolas; e além disso - pasmem! - já colocou na boca um carregador de celular ligado na tomada, e pousou sobre a cabeça até um ferro de passar. "Desligado, mas jamais desliguem suas ideias criativas", foi seu recado!
Eu vivo de coque, é como um Amor que não me sai da cabeça; e me julgo um ser até bastante criativo, mas Vera e sua veia cômica literalmente "plugada" me mostraram que um coque é uma arma poderosa, que pode ir muito além de - no meu caso - domar fios rebeldes oriundos de uma fonte sem qualquer paciência para lidar com eles. Só de descobrir uma nova maneira de carregar as compras do mercado, já me valeu por uma lição de vida!
Só que muito antes de o Facebook sonhar em existir, Vera já tinha entrado no meu Universo. Bem, melhor dizendo, meu Universo esbarrou no dela. Como eu sou uma pessoa de muita sorte, nasci no mesmo país que ela, e dentro de um espaço cronológico que me permitiu vê-la atuar, ao invés de só saber de sua existência através de livros de História da Arte. Me apaixonei pela mesma profissão, embarquei nela, e como não podia ser diferente, não demorou nada para a dona do coque mais famoso da web se tornar uma das minhas mais fortes influências. Nosso primeiro encontro foi em Brasília, em Mil Novecentos e Adão e Eva (brincadeira, foi em 1997 mesmo, nenhuma de nós é tão velha assim!), quando ela estava em cartaz com a peça Pérola, do saudoso Mauro Rasi.
Meu diretor de teatro na época, Marcelo Souza, era o produtor local. Fiz a ele a exigência de me permitir entrar no camarim para conhecê-la. Assisti duas vezes, e na primeira fomos eu e minha mãe, apenas. Havia uma parte da peça em que ela fazia uma dança, mas segundos antes, em cena mesmo, bateu o joelho numa parte do cenário e o povo todo ali viu que ela fez a dança e o resto da peça "no sacrifício". Na hora do camarim, deixou a expressão de dor de lado e era só sorrisos aos fãs. Minha mãe a parabenizou principalmente pelo esforço, ela agradeceu e então virou-se pra falar comigo. "Mas que olhos lindos esses seus! (quase os fecho de tanta timidez), a senhora caprichou, heim!?", voltando-se para minha mãe. "Eu te trouxe um presente especial!", falei, entregando o embrulho (este que ela segura na primeira foto). Quando abriu... Que escândalo! "Geeeente, olha o que eu ganhei! Meu Deus, olhem isso! Um brinco de Pérola!". Fez toda a equipe parar o que fazia pra curtir com ela o presente que chamou de "mais original e carinhoso, impossível". Fui coberta de beijos e abraços apertados, fizemos nossa foto, e eu saí de lá flutuando. Antes de ir embora, Marcelo disse a ela e aos parceiros de elenco que no dia seguinte todo o grupo do "Auto da Compadecida" estaria lá pra vê-los. "Oba, então a Duda volta amanhã? Que ótimo!", foi essa deliciosa demonstração de carinho que me carregou até em casa feito o Tapete do Aladdim. E dura foi a espera ansiosa das 24h seguintes... Quando voltei, fui a primeira do grupo a ganhar o kit beijo-abraço, e a galera do "Auto" se transformou pra ela em "os amigos lindos da Duda". E ela fez questão de tirar uma foto conosco em sua própria máquina, e também na da produção. "Senão só vocês terão a foto, não pode!", ela dizia. Uma pena eu não ter mais essa foto do coletivo, só as duas individuais, uma de cada dia, uma para cada dia que estive pessoalmente ao lado dessa pessoa incrível, dessa atriz talentosíssima, dessa artista tão criativa e igualmente generosa.
O Facebook me faz sentir ao lado dela de novo, porque ela é um alguém tão marcante e tão presente que suplanta detalhes bobos como distância física, tela de computador, anonimatos, etc. Além disso, é uma grande amiga e amada de grandes amigos e amados meus, o que contribui e muito pra essa sensação de proximidade.
Coquetel de remédios antidepressivos? Litros de uísque com energéticos? Que o quê! Ninguém precisa de nada mais que uma dose diária de Vera Holtz, e seu Coque Versace - digo, Versátil!
PS - e se ela estiver acompanhada de Luis Melo, a coisa fica ainda melhor...
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
~A Síndrome da Sala de Embarque~
Eu queria comprar o mesmo desinfetante que usam nos aeroportos para usar na minha casa. Para descansar e dormir com aquele clima, aquela sensação de estar iniciando uma grande viagem - aquela pela qual tanto se esperou... Quero montar um papel de parede com banners de companhias aéreas, empresas de aluguel de carro, e agências de viagens; transformar minha cozinha num mini-bistrô; e minha biblioteca, num mini quiosque de livraria; trocar meu sofá por uma longarina; e ter como escultura decorativa um painel eletrônico com horários de voos. Seria incrível ver as Partidas sem me sentir partida ao meio, e também ver as Chegadas imaginando as histórias fantásticas que cada passageiro trouxe na bagagem. Eu só queria tornar física e visível a minha tão deliciosa Síndrome da Sala de Embarque. Sim, deliciosa. Quando a palavra "síndrome" surge no contexto, sempre remete a algo ruim, eu sei! Mas essa veio pra confirmar a regra, já que toda regra tem sua exceção. Ela é uma cura, um antídoto para todas as outras. É alucinatória, é abdutora, é uma verdadeira redenção. Porque na minha Sala de Embarque não existem atrasos. Ninguém nunca chegará tarde demais. E eu jamais perderei um voo sequer... ... ...
segunda-feira, 6 de julho de 2015
~"Almor" Sater~
Porque não existe sonho impossível!
A gente é que não sabe como, quando ou onde vivê-lo...
A gente é que não sabe como, quando ou onde vivê-lo...
Dizem que Vida é aquilo que acontece enquanto a gente faz Planos. Por isso, eu não faço planos. Eu vivo tudo que quero viver, cada coisa em seu lado certo, o lado possível!
Aos 12 anos, descobri Almir Sater como ator na novela Pantanal. Minha irmã, quase 6 anos mais velha, se apaixonou por ele, e generosamente me carregou nessa onda. Na época, meu lado Atriz já estava acordado há tempos, eu já sabia ver a coisa com outros olhos. O que eu ainda não sabia é que nascia ali, naquele exato momento, através daquele peão-violeiro fazendo vezes de ator, o meu lado Poeta.
No ano seguinte, 1991, chegavam Ana Raio e Zé Trovão. Era, enfim, a hora de entender tudo!
Foi entre quatro paredes, entre dois lados de uma fita quase gasta, e entre tantas páginas de uma agenda preenchida no melhor estilo "Meu Querido Diário", que descobri que um homem que partilhava comigo um nome e um dia, na verdade partilhava bem mais que isso... Almir Eduardo, nascido num 14, foi o eleito entre os Mentores para me trazer o que hoje tenho de mais precioso e poderoso: a POESIA. E nela, ao inebriante som de uma Viola, juntos viajamos numa Chalana, num Trem de Lata; conduzimos boiadeiros e boiadas; partimos em Missões Naturais, e tocamos cada Fronteira; vimos tanta Água Que Correu, e ainda Milhões de Estrelas... Fomos aonde tudo é sertão, tudo é paixão se um Violeiro toca, aonde a Viola, o Violeiro e o Amor se tocam... Sim, foi graças a ele que tudo começou, e é graças a ele que jamais terminará!
Pouco tempo depois, Almir anunciava um show em Pirenópolis/GO, tão pertinho de casa. Minha irmã, já maior de idade, foi; mas minha mãe não me deixou acompanhá-la. Me frustrei sim, me senti injustiçada, mas pra me compensar, ela trouxe na bagagem tantos detalhes, e uma foto que, com o tempo, foi ficando cor-de-rosa. Emblemático e simbólico? Sem dúvida! Porque ali entendi que esse meu mundo já era cor-de-rosa. Entendi que não precisava do físico pra nada, por isso não mais me importei minimamente em buscá-lo. Em ritmo plácido, e sempre deste lado, vivi mais de duas décadas imersa e preenchida não apenas por um rio Paraguai, mas por um oceano inteiro, infindável, de Poesias em Acordes. Não era preciso mais, nem me julgava merecedora de mais... Mas merecedora, pelo menos, acho que me tornei depois desse tempo todo.
Carregada por 3 anjos, fui parar em um lugar onde o Portal da Distância eram simples mesas e cadeiras. Não houve olhos nos olhos, nem braços em abraços, mas Voz e Viola agora eram Ao Vivo. O Trem do Pantanal agora navegava em minhas lágrimas... 25 anos ouvindo sem ver, sentindo sem ter, e de repente tenho mais do que já quis buscar. Posso dizer que realizei um Sonho? Não exatamente! Digo apenas que tive o privilégio de vivê-lo por algumas horas também nessa dimensão aqui. Digo ainda que, ora numa Chalana, ora em algum Trem, Almir sempre me trouxe todas as Palavras do Mundo, e me ensinou a criar tantas mais; mas quando é para falar dele, ou para ele, não sei dizer uma sequer. Ainda bem que ele sempre sabe o que dizer, por mim e por ele, como perfeitamente resumiu assim...
Te amo em sonhos
(Almir Sater, Rodrigo Sater e Paulo Simões)
Toda minha vida, esperei você
Inventando estórias... Sempre imaginei
Quanto tempo na memória, eu te desenhei
Te amo em sonhos!
E é como um lindo amanhecer...
Toda minha vida, pude perceber
Que a verdade insiste em aparecer
Se as palavras forem ditas, e se a gente crer
Te amo em sonhos!
E é como um livro bom de ler...
Sei dos seus desejos, e do seu prazer
Onde estão seus medos, posso entender
Só o tempo sabe agora, e como vai ser
Eu canto em sonhos pra teu sorriso merecer...
Já não há motivos, nada a temer
Olhe em sua volta e você vai ver
Que é aqui, chegou a hora, pode aparecer
Eu amo, eu canto, eu sonho, eu vivo pra você!
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Nome?
João, se este é minha inspiração; Maitê, se esta me lê; ou José, se este me quer.
Profissão?
Quando fiz Medicina, era radiologista de Almas. Quando fiz Direito, fui Desembargador de Prantos. Quando fiz Engenharia, virei construtor de um Amor-como-nunca-Civil. Foi então que entendi que não sou nada além de um Biógrafo dos Sentimentos.
Data de Nascimento?
Depende! Para a Sabedoria, só sei que não nasci ontem. Para o Amor, nasço a cada novo minuto. Para a Ilusão, só nasço no Outono, quando caio e me rastejo feito as folhas ao vento. E pra Tristeza, creio eu, jamais irei nascer.
Estado Civil?
Civilizado! Tenho estado Sutil... Se bem que, confesso, tantas vezes tenho estado Explícito: ora ilícito, ora febril; mas, geralmente, sou solícito e gentil!
Civilizado! Tenho estado Sutil... Se bem que, confesso, tantas vezes tenho estado Explícito: ora ilícito, ora febril; mas, geralmente, sou solícito e gentil!
Tipo Sanguíneo?
Praticamente todos. Sou principalmente A-moroso, mas em nada vagaroso; sou também O-timo, onde mora meu Íntimo; e até AB-sorto num oceano de Ideias.
Faz exames médicos periodicamente?
Faço exames de consciência constantemente, precisa mais?
Então, não tem medo da Morte, ou mínima resistência?
Medo, nenhum! Mas, sim, uma baita resistência, já que Poeta não morre, vira Reticências... ... ... ...
Comida predileta?
Sopa de Letrinhas, e um Sonho de sobremesa.
Um hobby?
Caça-Palavras. Embora goste bem mais quando elas se vingam e vêm me caçar.
Pratica algum esporte?
Pratico Equilibrismo, basicamente. Tenho um pé no escondido e outro no escancarado. Mas também pratico Pesca.
Submarina?
Sub Marina, Sobre Marina, e por onde mais Marina me permitir pescar-lhe algo.
Um predicado?
Tudo poder predicamentar.
Um pecado?
Nada querer predicamentar.
Melhor amigo?
A Amizade.
Maior inimigo?
Certamente, a Inimizade.
O melhor de todos os Lugares?
Sempre o que te faz não querer estar em outro mais.
O maior de todos os Medos?
Superá-los todos, e assim perder a Prudência, a mais poderosa das proteções.
A pior de todas as Doenças?
Esquecer de cor.
A pior de todas as Dores?
Aquela tão frágil que morre na hora por um comprimido, mas não sem antes, por pura maldade, te fazer sentir-se comprimido, só esperando a hora de morrer.
Tipo uma enxaqueca?
Que nada! Enxaqueca é dor amiga, é gostosa. É o conjunto de contrações de Poemas que estão para nascer.
A Maior de todas as Dúvidas?
Nunca saber se na verdade choro com um sorriso no rosto, ou se rio com lágrimas nos olhos.
A maior de todas as Belezas?
Minhas musas inspiradoras, as irmãs gêmeas Sinceridade e Honestidade.
A melhor de todas as Viagens?
Sempre a que se faz através do Livro que se lê enquanto se aguarda a aterrizagem por sobre o próximo.
O maior de todos os Sonhos?
Quando jovem, acreditava que seria encontrar o que sonhou comigo antes. Mas hoje, sei que o maior de todos os Sonhos é sempre o que te obriga a ser maior que ele pra alcança-lo.
Quando jovem, acreditava que seria encontrar o que sonhou comigo antes. Mas hoje, sei que o maior de todos os Sonhos é sempre o que te obriga a ser maior que ele pra alcança-lo.
A maior de todas as Lições?
Essa não resta dúvidas: é sempre aquela que a gente ainda não aprendeu.
Essa não resta dúvidas: é sempre aquela que a gente ainda não aprendeu.
domingo, 31 de maio de 2015
Entre um enxame de importantíssimas questões
(atenção: contem spoilers)
O filme Entre Abelhas, roteirizado e protagonizado por Fábio Porchat, foi, pra mim, o filme nacional que faltava para equivaler a Quero ser John Malkovich no gênero-alternativo "abordar o banal de forma original"; pois o que faz um fato ser importante e atraente é simplesmente a maneira de contá-lo.
No longa americano, o eterno desejo que o ser humano tem de viver a vida do outro, achando que esta é sempre mais fácil e mais prazerosa que a sua, é contado de uma forma tão diferente que, à época, a maioria das pessoas detestou, e só conseguiu adjetivar a obra como "sem noção", "ridícula", e afins. Com Entre Abelhas, li as mesmas críticas/expressões, mas não pelo filme como um todo, e sim, especificamente, pelo final.
O público brasileiro ainda não está acostumado a finais abertos. Ele sempre pensa que "o autor não soube terminar, e aí fez essa M...". Brasileiro está acostumado a receber respostas, não a fazer perguntas. E este filme, do começo ao fim, é um enxame de questionamentos, para os quais, talvez, nunca tenhamos uma resposta exata. Mas a Filosofia há séculos nos diz que mais importante que a resposta é a pergunta, pois uma pergunta correta geralmente vem com a resposta embutida. É feito um eco perfeito, um bumerangue de radar preciso. Então, quem soube fazer as perguntas certas, e compreender as que o próprio filme fez, não precisou da plaquinha de the end.
Entre Abelhas fala da Depressão, do Isolamento ao qual se rende aquele que vê sua zona de conforto desfeita da noite para o dia, e os confrontos enfim acontecem... Conforto e Confronto: palavras tão parecidas, mas ao mesmo tempo tão antagônicas!... O filme mostra como é difícil mudar o foco, e quebrar paradigmas; e sobretudo o que acontece quando mudamos o foco e quebramos os paradigmas. E para tal, temas como a invisibilidade social, o machismo, e mesmo o descaso com o lado profissional (que geralmente ocupa mais da metade do nosso tempo de Vida) permeiam a trama corroborando sua temática.
Cenas aparentemente sutis gritam como mensagens subliminares. No ponto de ônibus, o primeiro "invisível" que é visível ao público é um negro que pergunta a Bruno para onde vai o ônibus; e é uma senhora idosa que responde ao rapaz, já que o protagonista o ignora. Um negro e uma idosa: dois entes sociais altamente ignorados no dia-a-dia. Outro "invisível" que é visível para nós é o garçom, que Bruno diz, sem perceber que ele está ao lado pronto para serví-lo, que "por 300 reais, comeria até merda!". O motorista de táxi tenta ser cordial, pois sabe ele que seu passageiro é a parte mais importante de sua profissão, que deve ser seu foco; mas Bruno demonstra que ele não lhe é importante, fazendo-o, então, simplesmente "sumir". Só depois de se desfocar do celular (representação física perfeita da máxima individualidade no mundo moderno) e se voltar para o homem, é que ele percebe sua ausência. Outra sutileza interessante foi no consultório médico, quando o doutor diz à mãe de Bruno que ela só tem "gases", ignorando a queixa da paciente, deixando de examiná-la e assim diagnosticar o problema cardíaco que viria a vitimá-la. Descaso com a vida humana, que se reflete de inúmeras maneiras entre nós, espantosamente incluindo aqueles que juraram defendê-la. Descaso com os humanos que julgamos não significarem nada para nós é o arroz-com-feijão, o pão nosso de cada dia; e só quando nos sentimos assim, insignificantes para os demais, é que de fato faz-se a Luz...
Bruno se separa da mulher e volta pra casa da mãe. Seu melhor amigo, Davi, pensa que a solução do problema está em mergulhar profundamente no círculo vicioso tipicamente masculino: noitadas com mulheres, álcool e futebol. Além disso, Davi traz a Bruno os seus próprios problemas, deixando-o sem espaço para pedir socorro em solucionar seu drama, que parte do óbvio: entender minimamente o problema para encontrar a solução. Na boate, Bruno recebe de uma profissional do lugar uma atenção atípica, bem diferente da prevista, o que claramente chama a sua atenção; além de reparar numa cadeira vermelha que queria dar de presente à ex-esposa.
É a partir daí, quando se vê desolado e desamparado, que o protagonista passa a perceber a ausência das pessoas. Começa justo aí a maneira original e interessantíssima de se contar o outro lado da moeda. Bruno passa, na verdade, a se ver jogando no outro time. Ele passa a sentir na pele a invisibilidade gerada pelo egocentrismo. Ele passa a se focar no Mundo ao redor, e percebe que este Mundo não está focado nele. Por isso que visível a ele, só os que têm algum papel em seu conflito. Ou seja, ele mesmo só é visível para estas pessoas em questão.
No consultório do médico, Bruno faz uma alusão às colmeias, afirmando que cada abelha já nasce sabendo sua função, mas que mesmo assim elas estão saindo em missão sem conseguirem voltar. Diz se sentir como essa abelha que se perdeu, que foi parar ali para não morrer, mas seu instinto mostra que tem de voltar pra lá. É uma metáfora perfeita para falar da Depressão, que é quando a pessoa não vê saída para um problema, não percebe que há Vida além da sua Zona de Conforto, sentindo-se perdida e confusa longe das Abelhas-Rainhas que o orientam e protegem. Por isso, após perder a mãe, e perceber que a mulher de fato não reataria a relação, Bruno chega à fronteira entre sua colmeia e uma nova capaz de absorvê-lo.
A grande cartada, que prova isso, é só restarem visíveis ao fim a moça da boate, e ele mesmo, com o telefone dela escrito na testa. E quando ele a procura, todo o resto some, incluindo nós, telespectadores, num black-out onde nada mais se vê, e só o que se ouve é um "alô". A moça representa um recomeço, o retorno à colmeia onde a única certeza que se tem é que nada mais será como antes. Nada mesmo. É a razão de o "fim" não trazer nada mais que a última parte comum a todos nós. Depois daquele "alô", apenas ele, ela e novas abelhas... Eis a ideia central/solução: mudar o foco e seguir em frente.
Quando o cartaz questionou o que a gente faria se parasse de ver as pessoas, antes mesmo de ver o filme eu me fiz a pergunta oposta: o que a gente fariam se começassem a VER as pessoas??? A reparar no mundo que nos cerca, e sobretudo entender que somos parte dele, e não o seu centro??? O que a gente faria se finalmente entendesse nossa função na colmeia??? Creio que, minimamente, não nos perderíamos mais! Depressão nada mais é que falta de um foco além de nós mesmos; de perspectiva; é sobretudo resultado da falta de autoconhecimento e de conhecimento do que nos cerca. Quem se enxerga bem, e sobretudo enxerga além de si é capaz de ver a quantidade inesgotável de colmeias e caminhos para se chegar até elas.
Maravilhoso ver que há vida inteligente na nossa colmeia. Vida capaz de guiar as abelhas que nunca sequer entenderam a sua função, ou aquelas que se perderam no meio do caminho. Sem abelhas não há polinização. Sem polinização não há Vida. Ninguém vive só, e ninguém vive à toa. Ainda bem que eu vivo para ver coisas assim...
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