sexta-feira, 28 de março de 2014

A Última e mais importante Sessão

ATENÇÃO: se você chegou aqui via Google porque buscava uma crítica profissional, me desculpe! Este espaço NÃO é patrocinado pela VEJA SP (graças a Deus, aliás!), nem por qualquer outro veículo do gênero. Este aqui é simplesmente meu diário virtual, onde eu transcrevo minhas sessões de terapia. Sim, a CULTURA é minha terapia, e eu costumo registrar o resultado de cada uma delas.

Dia 27/3 foi A Última Sessão. Última de mais recente, não de terminal. Os terapeutas do dia? Como sempre, vários! Mas em especial Shakespeare, Laura Cardoso e Odilon Wagner. 

A peça escrita e dirigida por Odilon Wagner é um marco teatral e, sobretudo, um marco humano. É uma encenação dentro de outra, comandada por uma constelação com mais de 570 anos-luz de carreira. É uma terapia completa, onde quem tudo explica não é Freud, e sim, Shakespeare!

"A Tempestade" criada no velho clube inglês inunda a plateia de emoções controversas. Ri-se pelo que se deveria chorar, e chora-se de tanto rir. Mas para a Alma, não importa o que provocou o choro, o importante é chorar. Porque é assim que a Alma cresce. Cada lágrima derramada é um aniversário que ela completa... A Última Sessão é um dilúvio de tabus, que na mesma água em que se derramam vão sendo lavados feito roupa suja.        

Tudo começa com "A Grande Chantagem" de Sylvio Zilber. Seu personagem esclarece que os "Anos Dourados" de Nívea Maria não são lá tão dourados assim, e que "Nem Tudo Está Azul no País Azul" onde vivem Gabriela Rabelo e Gésio Amadeu. Seu desmedido e derradeiro ato confessou que fez matar, e depois matou. Isso fez de todos ali "Os Inimigos" de Etty Fraser; e de mim, "A Herdeira" do talento de Miriam Mehler. Foi "A Hora da Estrela" Sonia Guedes brilhar ao som das "Divinas Palavras" da "Brilhante" Laura Cardoso. Uma mulher que não julgou ninguém no "Tribunal do Coração", e até confessou se esconder atrás de um pseudônimo para conquistar "Um Lugar ao Sol". Medo de ser verdadeira, e, portanto, mal vista, e ser afastada da sua função. Medo que ela venceu, e só faltou gritar que "Hoje Eu Me Chamo Dinorah". Laura comandou "A Cerimônia do Adeus" tendo como fundo musical o canto de Marlene! ... Ah, Marlene "Collé" a tua, minha nega!? Teu canto e meu pranto se revelaram um dueto mágico de verdade. E eu antes só me perguntando "Onde Está a Felicidade?". Ainda bem que ele sabe. Yunes(,me)Chami para onde você for. Chami, mestre, e não tenha dúvida que eu vou!!!

Odilon quis homenagear a maturidade, e fez isso da maneira mais digna e inteligente possível: apresentando-a aos que estão longe dela, para que aprendam com ela e a aplaudam de pé. A minha vida inteira eu repeti como um mantra que a Maturidade é o maior presente da vida. Sim, muitos dizem que é o Amor, outros dizem que é a Saúde, há quem diga que é o Sucesso, o Dinheiro, os Amigos. Mas sem Maturidade, você sequer reconhece o Amor quando ele chega, você desperdiça a Saúde, não aproveita o Sucesso, se torna escravo do Dinheiro, e magoa os Amigos. Sem Maturidade, você usufrui de nem 10% dos benefícios do sexo, se quer saber. Os imaturos se gabam do atletismo sexual, cobram performances (mas não querem ser cobrados), e gozam no máximo uma vez, enquanto os maduros gozam duas: uma no ato; e outra, da cara dos infantes que pensam que eles não fazem mais... 

Falhas de memória e limitações físicas não são "privilégios" da terceira idade, e nem significam sentença de morte. Meu corpo está longe desta fase, mas já passei por três cirurgias nos pés, por exemplo; e sou dependente dos aplicativos de lembrete do I-phone. Um dia, depois de andar demais, me vi sendo ajudada para conseguir entrar no ônibus pelo cobrador, um senhor de 68 anos, idade do meu pai. Eu o agradeci pagando na mesma moeda: com maturidade. Estabelecemos um papo que durou 5 paradas, mas profundo o bastante para fazer bem aos dois. Ele não esfregou na minha cara que estava melhor que eu, e eu lhe soube ser grata valorizando sua experiência de vida, sua disposição para trabalhar, sua capacidade de não se entregar à idade do corpo. 

Meu corpo não está na terceira idade, mas desde criança ouço dos outros a definição que eles criaram pra mim: "você já nasceu velha!". "Velho" é, para tantos, um xingamento. Ouvia isso porque nunca me encaixei nas minhas faixas etárias. Quando a graça era ouvir Xuxa, eu já cantarolava Chico Buarque com minha mãe. Quando a praia era ir às matinês, eu ia para os ensaios das peças que já encenava, eu via peças, eu lia, estudava, via filmes, ia a museus, via exposições. E isso tudo era "coisa de velho". Pois bem, quão sábios são os velhos, né, que têm muito prazer além do sexo (e nele), do álcool, das drogas e dos ruídos eletrônicos. 

Eu sei que os jovens não se resumem a futilidades, leis do menor esforço, ou à rebeldia autodestrutiva; sei que muitos amadurecem naturalmente, seguindo o percurso da Vida sem precisar de processos dolorosos. Só digo que é muito melhor, e mais rápido, amadurecer pelo ouvir. Prestar atenção aos que têm mais experiência que nós é a maneira mais sábia, intensa e menos dolorosa de se crescer. Para o Espírito, chorar de emoção conta em dobro. 

A frase que mais me marcou neste espetáculo, nesta Pós-Graduação Mental, foi: "A beleza da Maturidade está em entender o silêncio de novos acontecimentos". Porque estou vivendo um silêncio externo. Alguém que me é caro está calado, o que provocou dentro de mim um ruido quase ensurdecedor. Quase. Eu entendo o seu silêncio, sobretudo seus novos acontecimentos; e eu até aceito... Mas percebi que ainda tenho uma maturidade a alcançar! Porque eu entendo, aceito, mas ainda não consigo não sentir. Eu sinto muito!

A Última Sessão foi um presente de amigos, porque paguei muito barato por algo que, de fato, não tem preço - já que preço é coisa que a gente coloca naquilo que não tem valor. Não há nada melhor que ver quem a gente gosta brilhar, pois a gente brilha junto sem sequer se esforçar.

Laura, Nívea, Etty, Sonia, Miriam, Gabriela e Marlene. Silvio, Gesio, Yunes e Odilon, repito aqui o recadinho "de Merda!" que mandei na estreia. Obrigada pelo Tudo e pelo Sempre! 

Da Primeira à Última Sessão
Desejo muita sorte, saúde
Sucesso e União.
Xô, tensão!
Só tesão!!!
E que cada dia
Lhes traga uma
Linda e emocionante
Recordação!

Maria Eduarda Novaes

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