quarta-feira, 19 de outubro de 2016

"Eternamente Antes, e Para Sempre Depois"


Quando, exatamente, uma Amizade começa? E quando termina? Impossível dizer! Amizade a gente estima o começo, e no fundo sabe que não tem fim. Mas se é pra falar de datas, então, falemos da última década... São quase 10 anos desse Amor que nunca morre, esse Amor que desconhece egoísmos, e todo o tipo de "frescura" capaz de desandá-lo. Há quase 10 anos que tenho ao meu lado uma Poeta-Inspiradora (melhor dizendo, minha Poesia de estimação); uma guia 24h, afinal, Poeta nunca se ausenta de verdade, só tira licença poética. Há quase 10 anos, eu tenho uma Poeta que compõe umas músicas que só a Alma é capaz de escutar - e a minha escuta cada nota com exatidão. Músicas que vêm daquela fábrica de Sentimentos que sobram no peito, e então escorrem pelos olhos (que até sorriem), e ainda por bocas e mãos, em palavras e carinhos. Mas a verdade é que minha Poeta sempre esteve na minha Vida, antes mesmo de saber que eu tinha uma Vida. Mas tão logo soube, a acolheu plenamente. É a prova cabal do Eternamente Antes, e Para Sempre depois! E hoje, a minha Poeta faz mais um verso. Sim, porque Poeta não envelhece, faz um novo verso. E pela mesma razão, Poeta também nunca morre, vira reticências... Há quase 10 anos, me pergunto, então, o que pode valer mais do que isso? E a cada vez que me pergunto, mais sem resposta eu fico, pois a resposta é justamente essa: nada! Nada nesse mundo vale mais que um Amor assim. Porque gostar de Poeta é mais que obrigação, é mais até que pura inteligência. Mas ser do gosto de uma Poeta é mais que privilégio: é, sim, a mais pura Dádiva que pode haver. Você é um presente de Deus pro mundo, e um presente do Mundo pra mim. E não há presente no Mundo que eu possa te dar que seja capaz de expressar a minha Gratidão, tão vasta... Será, então, que um "Eu Te Amo" basta???


Maria Eduarda Novaes

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Entre, por favor, e repare bem na bagunça!

...E eu sempre deixava tudo em seu devido lugar, com a faxina em dia, pois você podia aparecer a qualquer momento! Mas com o passar do tempo, eu vi que você não me alcançava porque ora estava com um pé atrás, ora a mil pés de profundidade. A casa, então, ia perdendo o cheiro. A poeira ia acumulando a ponto de se recusar a sair com facilidade depois. As teias de aranha iam se confundindo com a cortina do quarto e com os lustres da sala de jantar. E o bule de chá congelou às 16h59.

...E eu sempre deixava tudo em seu devido lugar, com a faxina em dia, pois você podia aparecer a qualquer momento! Mas com o passar do tempo, entendi que você sempre foi o meu universo surreal, a minha maior loucura. Alguém que amei de uma forma pós-concebida, e sem dar satisfação. Alguém que amei, mas simplesmente esqueci de avisar que amei. Eu entendi que construí uma via de mão única. Eu não te deixei mais que o acostamento onde você se encostou, e de onde nunca quis sair. E se um dia você não mais passear com os cães na Praça de Maio, tudo bem, eu voltarei lá quantas vezes forem necessárias só para seguir seu rastro. 

...E eu sempre deixava tudo em seu devido lugar, com a faxina em dia, pois você podia aparecer a qualquer momento! Mas com o passar do tempo, entendi que aquela cabeça dormindo no meu peito acontecia só do lado de dentro. E aquele cafuné que eu fazia era sempre no espanaDor. A casa, então, perdeu de vez o cheiro. A poeira se concretizou. As teias de aranha também. E o bule de chá enfim se quebrou pontualmente às 17h.

Maria Eduarda Novaes

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

~O Silêncio do Céu~

Dizem que o silêncio, além de prevenir problemas, é o melhor remédio contra todos os males. Talvez seja por isso que a máxima de "colocar uma pedra em cima do assunto" seja tão comumente usada. E em O Silêncio do Céu, essa metáfora foi concretizada. 

Carolina Dieckmann é Diana, uma brasileira radicada no Uruguai, mãe de dois filhos pequenos, que, junto à outra brasileira, trabalha como designer de moda. Diana é violentada por dois homens dentro da própria casa; e em seguida, demonstrando estranha normalidade, liga para Mário (Leonardo Sbaraglia) pedindo a ele que pegasse as crianças na escola. 

O que o público até ali ainda não sabia é que Mário - o marido que até minutos antes de a película começar era o ex, que havia voltado pra casa dias antes - tinha visto tudo, e até tentou reagir, mas por ser um colecionador de fobias, foi incapaz de tal feito, e passou a se culpar. Além da culpa, passou também a lidar com o silêncio sepulcral da mulher. Sem entender como alguém pode fingir que um estupro não aconteceu, o roteirista profissional se aproveita de seu ofício para primeiramente achar respostas e, então, escrever um personagem vingativo e vivê-lo além dos limites. 

A essa altura, você deve estar dizendo "pare, volte, me atualize! E a tal da metáfora concretizada???". Pois bem, obrigada pela lembrança! Assim que Mário percebe que a mulher está sendo violentada, ele pega uma pedra grande pra usar como arma, mas essa pedra vai parar em cima da mesa da sala, e lá permanece até a última cena. Dias vêm, dias vão, a família passa por ela inúmeras vezes, e lhe é totalmente indiferente. Agem como se não percebessem um elefante sentado no sofá da sala, e que sentou ali de uma hora pra outra. Diana não tirou a pedra porque ela representava seu silêncio. Mário não tirou a pedra porque ela abafava o barulho desnorteante dos medos que o atormentavam e incapacitavam desde criança. E os filhos não tiraram a pedra porque pra eles ela não significava coisa alguma. Mas essa não é a única metáfora concretizada ali. Os cactos são quase um grupo de atores coadjuvantes que representam toda a verve psicológica adotada pelo roteiro e pela direção. Chave do mistério, essas plantas tão presentes no enredo simbolizam a adaptação e a resistência perante condições inóspitas e até drásticas. É um cacto que fere Mário durante o estupro de Diana (o colocando talvez numa condição igual a dela). É um cacto que encanta os filhos do casal pela possibilidade de "se mexer", e trazer alguma novidade a suas rotina tão pacatas. O trabalho de Diana é baseado em cactos, e é por meio de uma metáfora que alude aos espinhos que ela finalmente extravasa sua dor, num único e raro momento de transparência emocional.

Filmado em dois idiomas, e em dois pontos de vista! Representado por um elenco estelar, o Silêncio, astro principal do filme, ao fim simplesmente transita. O que era apenas de um, passa a ser de ambos. Y la nave va...