~O Homem Que Nunca Acordou~
Eram seis da manhã, e ele me destinou um tímido "até mais tarde"! Eram nove da noite, e ele estava friamente monossilábico! Eram seis da manhã do outro dia, e ele mal murmurou um "oi"! Eram seis da tarde, e ele sequer se despediu do chefe! Era um homem de poucas palavras, quase onomatopeico. Míope desastrado que esbarrava em tudo. Recordista de batidas de trânsito. Profundo conhecedor da hipnose, bem como da robótica. Um homem que jamais bebeu uma única xícara de café!
Eram sete e meia da manhã, e ele entrou no chuveiro ainda de pijamas! Eram nove e quarenta da noite, e ele nem ligou a TV! Eram sete e meia da manhã do dia seguinte, e ele uma vez mais passou reto pela banca de jornal! Eram dez e cinquenta e dois da noite do jogo da seleção, e ele apenas admirava a capa do livro novo, sem ousar abrí-lo! Era um homem de passos contidos. Não tinha pressas. Não se irritava. Não provocava nem retrucava queixas. Um homem que beliscava as refeições feito um passarinho!
Eram oito e catorze da manhã, e a polícia bateu à sua porta! Eram onze e trinta e dois da noite, e ele ainda não havia respondido a campainha! Eram cinco e cinquenta e três da semana posterior quando fui até sua casa saber o que estava havendo. Já era quase madrugada, e eu o encontrei dormindo no sofá! Era um homem inerte, lânguido, modorrento, apático, que não me permitia faxinar decentemente a sala. Um indivíduo narcoléptico sob efeito de soporíferos; que respirava, e nada mais!
Eram, precisamente, nove e oito da manhã do ano seguinte quando enfim encontrei seu diário! As primeiras páginas preenchidas com garranchos que mais lembravam um eletroencefalograma... E eram! Nas páginas seguintes, uma coleção de intimações policiais, multas por desordem civil, receitas naturais e de fármacos, bilhetes de amor - de Sônias e Parassônias -, e um provável testamento deixando tudo para elas.
Sonambúlico, sexônico, sonilóquio... Aquele era um homem que um dia dormiu, e nunca mais acordou!
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