segunda-feira, 19 de agosto de 2013

FLORES infelizmente RARAS


Não sou cinéfila por prazer, somente; mas também por obrigação. Como atriz e escritora, quanto mais eu tomar como exemplo, melhor! E se o exemplo for o melhor possível, então... Se você tem preconceito contra a homossexualidade, não veja FLORES RARAS. Perca cenas de sexo brilhantemente coreografadas por duas grandes atrizes, e tudo o mais que elas e todos naquela película te proporcionariam pelos “curtíssimos” 116min. Há tempos eu não via um filme que acertasse em tudo, de A a Z. Da Autoria ao Zé-da-Claquete, nada ali falta, nem muito menos sobra. E já que tudo funciona, vou me limitar a falar da melhor parte: GLÓRIA PIRES. Essa cidadã chegou a um nível que ela não mais interpreta, ela humilha! Ela não nos provoca mais uma catarse, ela nos abduz completamente. É esplendoroso ver uma atriz completamente despida, não apenas de roupas, mas, sobretudo, de limitações - onde nem sequer o idioma é uma barreira. Vê-la se entregando a uma personagem sem julgá-la, sem moldá-la, é um deleite especial. Ela simplesmente se doa, se empresta de um jeito, que chega a parecer uma “incorporação”. Certa vez, ao dirigir a novela Anjo Mau, Carlos Manga foi perguntado “como é dirigir Glória Pires?”, e ele deu uma resposta fantástica: “Simples! É só ficar calado pra não atrapalhar!”. Ele resumiu perfeitamente, pois a gente é meio que levado a ficar estatelado, só admirando. Miranda Otto, a linda e talentosa atriz australiana que contracena com Glória, tem todos os seus méritos (e muitos), mas é impressionante o quanto nas cenas entre ela e Glória, ela rendia ainda mais. Assisti com uma amiga que confessou não curtir homossexualidade, disse que fechou os olhos, e me perguntou se eu achava realmente necessárias as cenas íntimas. Óbvio!!! Seria um filme amputado se só as subentendesse; ou se a câmera desviasse na hora e começasse a filmar a vela – como aconteceu em outro filme com Glória, O Quatrilho. As cenas são inteiramente contextualizadas, e só chocam quem realmente já está predisposto a se chocar (pode crer, amigo, se você tem mais de 10 anos de idade, perceberá que já viu inúmeras cenas de sexo hétero bem mais tórridas que estas). E a prova maior dessa necessidade, pra mim, é a diferenciação clássica que se faz entre as relações de Lota e Bishop, e de Lota e Mary. Essa, a própria personagem de Lota diz que se tornaram “roomates” (apenas amigas). Elas – as cenas - começam na hora certa e duram só o tempo que devem; e não se sobrepõem ao texto. Porque, sim, o filme tem texto! E ele é recheado de diálogos profundos, que narram conflitos internos e externos. E de quebra, como um bônus, ainda nos presenteia com paisagens bucólicas de encher os olhos. Como atriz e poeta, confesso: é orgásmico ver a realidade e a ficção me ensinado. Aprendo com as atuações, e dentro da ficção foi interessante ver o processo criativo de Bishop, mostrando que não sou assim tão diferente dela. Eu também escrevo deitada no chão, aos rabiscos e amassos de papel, falando com as árvores, com os bichos, dialogo com meu silêncio e narro para mim mesma as minhas tantas histórias de amor. Ah, sim, o amor muito inspira. Não há mente que não destrave diante da paz de um amor que nasce e cresce em meio ao canto dos pássaros, sob a companhia de um gato de rua, e mesmo ao som do choro de uma criança que não se sabia querer... Esta história mostra que o Amor é perfeito, a gente é que se esforça em estragar, primeiramente com rótulos, mas ainda com ciúmes, possessões, egoísmos, bebedeira, e crises de meia idade... Reunir em uma só produção tantas flores diferentes e conseguir formar um jardim homogêneo assim é algo realmente raro. Um filme pra se ver umas 25 vezes, no mínimo! Que bom que ainda me faltam 24 (ou mais)...  

11 comentários:

  1. Duda,
    Não sabia que você era crítica de cinema. Que belo texto. Não vi o filme ainda, nem sei se conseguirei, mas confesso que fique bem curiosa.
    Abraços,
    Katia

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    1. Oi, Kátia. Quando estiver disponível em locadoras, na internet, não perca! Bjs.
      PS - sou crítica amadora, do tipo que AMA muito o que faz!

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  2. Lindo texto,Dudinha! "o Amor é perfeito, a gente é que se esforça em estragar, primeiramente com rótulos, mas ainda com ciúmes, possessões, egoísmos, bebedeira, e crises de meia idade... " PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!!

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    1. Amigo, você é muito especial, e bacana! Bjsss e saudades!

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  3. Nossa Ermanoteu, que linda esta sua janela repleta de flores! Esse fds sem dúvida irei assistir!
    Mandarei a sua belíssima crítica aos meus amigos!!!!
    Parabéns!!!!

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  4. adorei o texto, minha ressalva (e acho q tenho propriedade pra falar - bendito mestrado) e a seguinte...

    "Se você tem preconceito contra o homossexualismo, não veja FLORES RARAS."

    "Assisti com uma amiga que confessou não curtir homossexualismo(...)"

    o termo homossexualismo está carregado de preconceito, sem falar q o sufixo ismo remete a doença. Ser gay nao é doença.
    Entao... que tal uma Re-edição e onde tem o maldito ismos coloque idade assim passamos de homossexualismo pra homossexualidade, que nao é doença, mas nos remete a uma condição, assim como é a condição da heterossexualidade.

    e continue a escrever dessa forma, pq vc vai longe!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  5. concordo... eh q infelizmente eh o usado quando se remete a isso, mas vc ta certo, temos de mudar, palavra, conceito e sobretudo esse preconceito. Filme lindo!!!!

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  6. pronto, mudei! E obrigada por todas as consideracoes!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  7. Duda, mais um texto primoroso e imperdível.... Estou amando seu blog! Ah.... Apenas um detalhe mínimo: O correto é "Anjo Mau". Mais uma vez....PARABÉNS!!!!

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    1. Perfeitamente. E olha que li, reli, mas há coisas que passam batido, né? Obrigada pela contribuição!

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