"FELIVERY" - Alegria em domicílio
Um filme recente, de Bruna Lombardi, chamado "onde está a felicidade?", trouxe uma frase marcante: "A felicidade sempre está onde a gente a coloca. O problema é que a gente nunca a coloca onde a gente está!". Nada mais real que isso. A felicidade é para tantos inatingível porque se pensa haver um padrão a ser seguido em sua busca, e mesmo em sua face; como se algo tão abstrato se concretizasse o suficiente para obedecer qualquer tipo de padrão. Colocam na cabeça de 99,9% das mulheres que a felicidade está, por exemplo, no casamento feliz e na maternidade. Aí elas vão lá, namoram, noivam, casam, procriam, criam, e tempos depois tantas se perguntam "por que eu ainda não me sinto plena e satisfeita?". Colocam na cabeça de 99,9% dos homens que a felicidade vem de ser bem sucedido profissionalmente, ter uma vida estável e com condições de garantir os luxos da sagrada família que formará. Daí vemos inúmeros empresários trabalhando 24h por dia feito escravos para acumular capital, não vendo nem onde a família começou, muito menos onde vai parar. E quando finalmente, depois de anos, tiram suas primeiras férias para aproveitar o que ganharam, se perguntam "como posso aumentar ainda mais meu patrimônio, curar as carências da minha mulher, e garantir o consumismo surreal dos meus filhos, pois ainda não me sinto pleno e satisfeito!?"
A Felicidade é, sobretudo, pessoal; é individual, ainda que haja em sua vida um indivíduo cuja felicidade, para ele, seja dividí-la com você. Ela é parcelada, vem aos poucos, em peças como num quebra-cabeças. E como em qualquer quebra-cabeça, umas partes são mais coloridas que as outras, algumas são maiores, outras bem pequenas, algumas se perdem pelo caminho e precisam ser substituídas, ou simplesmente deixam um buraco; mas fazem parte de um todo, de um conjunto onde tudo vai se encaixando com o passar do tempo. Sim, vem em conta-gotas, leva tempo para montar o quadro geral, mas não significa que somente aí, ao final, a Felicidade existirá. Alegrias acontecem a todo instante, e são o combustível que nos move. Tanto que, se julgarmos que os tempos bons já são os idos, ou partimos em busca de novos, ou desistimos simplesmente de viver.
E o endereço da nossa Felicidade é o mesmo que o nosso: ela nos acompanha, esteja onde estivermos. Mas como é gradativa, e tem tantas formas, dificilmente é percebida, muito menos exaltada. Mas ainda bem que alguns já começam a percebê-la e a valorizá-la.
A minha felicidade, por exemplo, me é entregue diariamente em domicílio. Quando abro os olhos de manhã, recebo as alegrias de estar viva e enxergando. Quando visto-me para trabalhar, me alegro de ter um emprego que sustente minhas necessidades e também meus luxos. Quando ando quarteirões até o transporte, não lamento não ter um carro e sentir dores nos pés. Prefiro exaltar o fato de que tenho a liberdade de ir e vir, e não sou dependente de uma cadeira de rodas. Quando almoço, a carne não é sempre uma picanha suculenta, mas mata minha fome, e essa sensação é ótima. De volta em casa, lanço os sapatos ao ar, bem como as roupas, e me rendo a um banho refrescante e revigorante. Depois eu como o que gosto, leio o que gosto, converso com quem gosto, e vou dormir sobre o travesseiro que gosto. Então, o quadro simplesmente se completa, e a Felicidade me sussurra aos ouvidos "boa noite, e até amanhã!"...
Maria Eduarda Novaes
Nov/2012