sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A Raposa do Cerrado

*
A Corte da decisão suprema nada decidiu. Ainda. O candidato ao governo do DF, Joaquim Domingos Roriz, bem como muitos outros pelo país na corda-bamba da Lei da Ficha Limpa não terão suas candidaturas impugnadas. O maior risco que correm é não serem diplomados. Bem, isso os demais, pois a Raposa do Cerrado é muito esperta. Achei que nada mais me surpreenderia, mas, confesso: caí do cavalo, pois de besta este aí não tem nada. Raposa, cavalo, besta... Política é mesmo uma coisa animal! Vamos aos fatos: se concorresse e vencesse, Roriz poderia não ser diplomado, e o GDF seria assumido pelo vice-colocado. Aí ele seria definitivamente carta fora do baralho. Mas, porém, contudo, todavia, se passasse o bastão para alguém de sua confiança, teria um papel fundamental no governo de forma intocável. Nada o poderia atingir, legalmente falando. Foi uma tacada de mestre. Ele foi à TV "choramingar", se dizendo "impugnado", assumindo que fora "derrotado", causando em seu curral eleitoral um sentimento de revolta, pena, uma catarse digna de novela das 8. Com o público sensibilizado, e a campanha seguindo em frente na reta final, transferir os votos para sua mulher será mais fácil que roubar chupeta de bebê. Votar nela é o mesmo que votar nele. Uma senhora cuja vida pública não vai além de 14 anos como primeira-dama, obviamente precisará de 100% de assessoria; e ganhará um brigadeiro aquele que adivinhar quem será esse principal assessor. Aliás, isso nem é mais segredo. Hoje, em entrevista coletiva, a nova candidata já afirmou que o marido muito a aconselhará. "Aconselhará"! Novo eufemismo para "só assinarei papéis e mais papéis, pois quem mandará vai ser a raposa". Óbvio! Para ele, saiu melhor que a encomenda. Há quem não se preocupe, pois as pesquisas indicam Agnelo Queiroz, do PT, como vencedor. Sinto muito jogar um balde de granizo na esperança alheia, mas essas pesquisas acontecem exclusivamente em território do DF, enquanto sabemos que o curral da raposa - gigante, numeroso, o que sempre o elegeu - fica mesmo no entorno. Entorno é Goiás. Lá os institutos não chegam. Diante dessa jogada, o cheque-mate é só uma questão de dias. Infelizmente. Pois o eleitor, verdadeiro criador da Lei tão discutida, poderia colocá-la em vigor de imediato, independente do que polemizam e divergem os magistrados. Mas uma parte não tem educação para discernir. E a outra, que tem, prefere se beneficiar... Que Deus nos ajude nestes próximos 4 anos de invasão de terras públicas, desvios de verba, obras superfaturadas e inacabadas, ocupação desordenada e destruição de áreas de proteção ambiental, dinheiro na meia, na cueca e no... Bem, melhor parar por aqui! Dona Raposa não merece mais uma linha sequer do meu tempo. Pois já me basta saber por quanto tempo a terei me rodeando sem que nada possa fazer para espantá-la.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Onde haja só seu corpo nu junto ao meu corpo nu...

Conversando com uma amiga classe "vip" sobre a playboy de Cléo Pires, perguntei a ela se posaria nua também. Apesar de serem ambas librianas, e famosas, são personalidades bem diferentes. Antes de saber a resposta, dei a ela minha opinião. E a recíproca foi verdadeira. Resposta negativa-direta e sob os mesmos argumentos. Pensamos igual também neste quesito.
*
Nudez é um tabu 100% pessoal. Para uns é natural e não deveria despertar estranheza ou causar choque moral. Para outros, natural é andar vestido, pois, mal saídos do útero já lhes cobrem as partes com roupas. Para mim, a nudez é o mistério mais instigante, e deve ser mesmo íntima, privilégio diário seu e de poucos eleitos por você. Por isso o chamado nu artistico, sim, é até mais sensual, e mesmo uma roupa mais colada ou provocante. Mas sabemos, eu e minha amiga, que 99,9% dos homens (já que generalizar é sempre um perigo) não coadunam desta opinião...
*
No mundo de hoje, famosos e anônimos vivem cada dia mais expostos. E com isso as pessoas vão revelando seus mistérios cada vez mais rápido até que perdem a graça. E sendo a nudez o grande mistério, uma vez revelada e curiosidade satisfeita, perde-se muito do interesse. Alguns caem no "lugar comum" e até no ostracismo, pois trazem a idéia de que não se têm mais nada a oferecer, ainda que de fato tenham.
*
Acho que algumas pessoas não precisam dessa exposição, mas jamais condenei quem topa fazer. Aliás, parece que algumas têm até a cara do editorial. Mais cedo ou mais tarde as veremos por lá. Como é o caso da Cléo Pires, que revela sem pudor seu lado exibicionista em suas entrevistas, e fez questão de deixar isso evidente em seu ensaio. Mas há pessoas que nem imagino permeando capa e páginas principais, mas, reitero que não as condenaria.
*
Um dia eu gostaria de fazer um ensaio sensual, um nu artístico (de preferência quero estar grávida), para presentear uma pessoa especial. Vai ser um segredinho de poucos. Algo de um mistério tão bom que mereça ser colocado em um baú, enterrado sob algum monte de areia com direito a mapa-do-tesouro e muitas boas risadas acompanhada de taças de vinho, imaginando o que nossos netos acharam quando enfim o encontrarem.
*
A intimidade amplifica tudo! Assim, penso, tudo tem muito mais graça.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"JUST-A-BIBA"


No fim de semana passado estive em um shopping aqui em Brasília, chamado Pier 21. E entendi exatamente porque o apelidaram de Pier-SUB21. Só galera cheirando a leite, e que tenta disfarçar este odor com excesso de gel-hortelã para cabelos (chega dá tonteira ao passar ao lado). E eis que vejo um (melhor dizendo, um milhão) ser vestido, penteado e se comportando exatamente como o novo fenômeno da música pop-adolescente. E uma moça do meu lado fala ao namorado "Olha só um Just-A-Biba ali"... Não resisti e caí na risada. Sabe, nada contra os homossexuais, somente contra aqueles que pensam que ser assim é questão de marketing pessoal, que está na moda. Há pessoas que nasceram pra viver sob os holofotes. Mudam completamente de uma semana para outra só para seguir um modismo. É a velha máxima do "falem mal, mas falem de mim!".
*
Essa pobre criatura canadense, chamada Justin Bieber, aos 12 anos foi arremessado pela própria mãe num concurso de talentos de seu país, ficando em segundo lugar. Aí, foi para no Youtube, aí foi visto por um produtor americano, aí foi usado como um produto, e aí virou um produto que se proliferou mundialmente... O menino até que tem talento, pois aprendeu sozinho a tocar violão, bateria, guitarra e mesmo trompete; mas está totalmente subaproveitado, não tendo qualquer autonomia para decidir como e o que quer fazer da própria vida. E só pra arrebatar a tragédia, sua mãe agora briga com o pai, que quer parte de sua fortuna, e tudo escancarado nos jornais.
*
O que me indigna mais é que as pessoas acham que a transição da infância para a idade adulta é um vão raso, e que precisa ser preenchido com qualquer coisa. Raso coisa nenhuma. E muito menos deve ser preenchido com qualquer coisa. Adolescência não é um período de black-out cerebral. Muito pelo contrário. Tudo está muito aflorado, principalmente a capacidade de absorção. E isso porque vai-se entrar na fase mais dura da vida, e precisa-se de bagagem pra isso. "Malhação" pensa que jovens só querem - e são capazes de - saber sobre sexo, drogas, rock-n-roll, vestibular e tudo ao som de musiquinhas mela-cueca tocando em matinês, pois é só disso que consiste a vida... Meu Deus, não!
*
Já tive 15 anos, e mesmo não tendo título de eleitor, discutia em casa e na escola o futuro do meu país. Já tive 16 anos, e meu diário era recheado com pensamentos de Vinicius, Toquinho, Chico Buarque, que muito me ajudaram a formar o meu. Já tive 17 anos, e comecei a trabalhar e levar a vida muito a sério. Já tive 18 anos, e aprendi a dirigir com a maior responsabilidade do mundo, dando ainda mais valor à vida. Já tive 19 anos, e minha saúde passou a ser ainda mais cuidada, e então o trabalho melhorou, a vida sexual, a responsabilidade no trânsito, os diários viraram livros, as amizades se multiplicaram, e eu cheguei ao outro lado do abismo carregando tudo o que eu precisava pra começar a jornada.
*
Os jovens de hoje precisam e merecem que o ofereçam muito mais que Justin - inclusive o próprio merece mais de si mesmo e dos outros. Os jovens merecem aprender que relações humanas vão além de sexo com camisinha e baladas. Os jovens merecem que entendamos o real valor e sentido dessa fase de transição. Os jovens merecem que lhes dêem condições de cumprir o difícil fardo de ser "o futuro da nação".