sábado, 5 de dezembro de 2009

ARENA DE GLADIADORES
O Mensalão do DEM de Brasília

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Eu sei que os que leem agora este artigo não eram nascidos nos tempos da Roma antiga, e jamais estiveram numa arena de gladiadores, mas, graças a Hollywood e Russell Crowe, todos nós sabemos bem o que ela era. Mas será que sabemos o que representava e quem eram os verdadeiros criadores, e responsáveis, por ela? Ou melhor, será que ela é coisa do passado, ou está aí até hoje, mas com outra cara e novas características? Para responder isso, primeiro um apanhado histórico...

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Arena era o lugar onde combatiam os gladiadores, os clérigos do Deus da Guerra, os cavaleiros, os escravos querendo a liberdade, os magos-guerreiros, bem como os assassinos e mercenários. Eram combates que não necessariamente levavam à morte, por serem apenas um jogo. Isso mesmo, um jogo. As arenas existiam principalmente para distrair e divertir os pobres, e fazê-los esquecerem de suas vidas sem sentido. É o marco da "política do pão e circo". Um rei preocupava-se em alimentar e entreter sua população, e ela não tinha porque se rebelar. Eram um campo de batalhas inesquecíveis e imperdíveis. A única coisa que transformava Reis e plebeus em semelhantes. Igualava a todos numa mesma ansiedade em assistir ao combate, num mesmo ideal: ver a vitória de um, que significava, obrigatoriamente, a desgraça do outro. É um local de decisão de destinos, vidas. Que vença o mais forte, e este será, pra sempre, respeitado. Uma arena não existe sem duelos, e para o guerreiro ali dentro, só a própria sobrevivência interessa. E para isso, vale tudo, usar todas as armas - bastão, espada, machados, ferros e lanças; além de equipamentos de apoio, tais como cavalos e bigas (taí, parando e pensando agora, seria BIGA a verdadeira origem da palavra BRIGA?). Dentro de uma arena, sempre há o guerreiro favorito, que, em geral, é o que sempre ganha. Mas isso, embora pareça, nunca foi um jogo de cartas marcadas. Sempre havia surpresas, como surgir um guerreiro poderoso, quase místico. É aquele que dava a sorte de ter imunidade a doenças e um corpo fechado, por isso, independente do tamanho do feitiço do mago, nada o atingiria. Ele podia ter uma empatia grande com os animais e, assim, acalmar as feras que poderiam devorá-lo, fazendo delas um poderoso aliado. Ou ainda ter um sentido tão aguçado e uma boa mira que poderia fazê-lo desviar dos ataques contra si e ser certeiro, fatal nos golpes contra seu algoz. Mas estes guerreiros, todos sabem, não surgiam do nada. Começaram como escudeiros, cuidadores de animais, mulheres que sempre tentaram mostrar sua capacidade igual, ou superior, de combate; déspotas conhecidos do grande público que queriam de vez provar uma superioridade, ou até mesmo "peixes pequenos" que julgavam não terem nada a perder.
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Bem, estamos falando da idade média, mas, alguma semelhança com o cenário político dos séculos XX e XXI? De saída, em verdade já vos digo que muita coisa mudou, mas sua essência continua exatamente a mesma: as lutas jamais representaram a nossa vontade, e os resultados finais sempre independeram de nossas ações. E das tantas mudanças, uma só bastou para redesenhar esse cenário... Nas arenas de antes, o poder público era apenas público, espectador; enquanto hoje, é chamado para a luta. Hoje, gladiadores não são apenas inimigos entre si, mas principalmente nossos inimigos comuns. E aqui não há surpresas. Não há um guerreiro entre nós que surja do nada e seja imune a eles; que saiba se esquivar de seus golpes e derrotá-los ao fim. Na arena que criamos, ou a gente não permite que os gladiadores entrem nelas, ou seremos sempre a parte derrotada. Antes, a gente pagava pra ver as lutas e vibrava com os resultados. Hoje, assinamos um pay-per-view do ultimate fighting championship das TVs Câmara/Senado e não gostamos nada de ver os gladiadores saindo, todos, vivos e apertando as mãos dos - até segundos atrás - inimigos. Os gladiadores de hoje brigam por propinas, pra ver quem desvia mais verba, pra ver quem escapa dos impeachments e volta às arenas tempos mais tarde, com aval e total apoio do público, que lhes dá votos - de entrada e de confiança - para que nos criem uma batalha difícil, inglória, e, porque não dizer, inútil. As lutas entre eles hoje são detalhes. Fortes e violentas, mesmo, são os golpes deles contra nós.
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O primeiro Mensalão, o do PT, revelou vários gladiadores. Um foi responsabilizado como "o grande vilão, culpado de tudo", dois foram derrotados, e os demais fugiram da arena para não terem o mesmo destino. Destes, 90% foi simplesmente devolvido para a mesma arena, se tornando, claro, mais fortes e, numa ingratidão tamanha, continuaram a ser os nossos maiores adversários. Com um exemplo desses, vindo da maior categoria de gladiadores, por quê outros, de categoria um pouco inferior, não se arriscariam??? Se presidente, deputados federais, e senadores podem, por quê um governador, deputados distritais e assessores também não poderiam??? E por quê há quem pense que o resultado final desta luta será diferente? Alguns até poderão ser derrotados entre si, mas a imensa maioria vai fugir da arena, para, dentro de alguns anos, nós mesmos os colocarmos de volta e recebermos o golpe final. Esses protestos - velas acesas com mensagens de "fora!", invasões da arena, panetones grátis para o público - são apenas barulhos, gritos da torcida. É só mais uma luta em uma arena. Não foi a primeira, e nem será a última. Enquanto a gente insistir em enchê-las de leões, seremos sempre as carnes devoradas (sabor pizza, panetone, ou seja qual for)... Nem nessa, nem em nenhuma outra batalha, haverá folha de Arruda o bastante para acalmar tantos nervos e espantar tantos maus espíritos...

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