quarta-feira, 14 de setembro de 2022

~cor floris, cor coloris, cor purissimi doloris~
(BR 040/KM 4 - de aguaceiros e de ruínas)


Todo coração tem suAORTA,
Que pelo visto, tudo suporta.
Em coração, fundo se CAVA
E o Mundo se planta,
Pois ele tudo suplanta!
(mas, quando se mente, se planta a pior semente...)


Vivendo a paus(a) e pedras, entre dúvidas e demoras, meu coração coleciona segredos que só ele sabe, riquezas que só ele tem, e saudades que só ele sente agora... 

Hoje, meu coração tá anêmico, paralítico, amputado, roto, torto, perfurado, e totalmente fora do lugar. E se for reparar bem, não tem reparo!!! Metade dele morreu, e a outra metade que vive, segue sem saber que rumo tomar, e onde irá parar. 

Meu coração está pelas tabelas, abrigando uma Alma que se refugia em favelas. Tá tudo muito ventríLouco, pois tenho um átrio ordinário, que ignora o meu livre arbítrio. 


Cores e Flores são Dores 
Que o Coração transmutou!
(Por isso, a grafia mudou)

Mas... Cores também desbotam, flores também murcham, e têm espinhos que machucam; e dores, quanto mais fortes, mais resistentes. A Dor é uma dormência, é uma demência, é uma doença terminal intermitente (e prepotente)! 

Coração florido, coração colorido, mas duramente dolorido... 
A Dor não cede clemência!


A gente passa um inverno dentro do inferno, num sofrimento interno, externo, e por vezes eterno; até que o ardor disso tudo nos mostra que... 

Antes Sol do que um Mal nublado. 

A gente aprende a reviver sem sequer ter nascido. A gente descobre como renascer antes mesmo de ter morrido. Quando a metade de mim em ti começou a morrer, todo o nosso Inteiro se rachou. E quando o inteiro de ti terminou de morrer, todo meu Inteiro se estilhaçou - e se apartou de mim. Inteiros que se vão (partidos no vão), nos deixando pelas metades...


A Morte é sempre um tiro-certo, que mata até as pessoas erradas. Mata a Sereia-da-Mata, a Noiva-do-Vegetal; que se enterra prometendo infinitudes, mas só entrega brevidades, na terra ou no umbral. Nos ataudes, corpos (se de)batem em retirada, metendo medo nos próprios medos, até todos terem a coragem de fugir em disparada!

Seríamos temporariamente eternos ou eternamente temporários?


As Dores enfeiam a Sorte, enquanto as Flores enfeitam até a Morte

Cheguei ao ápice do declínio!!! Onde exerço clandestinamente o direito às fraquezas em meio ao dever de ser sempre forte (e sempre norte!). É, eu ando tão à flor da pele, que vejo, sinto, e cheiro cada corte, tendo a certeza de que só eu mesma tenho o meu Coração. Ninguém mais! 


Nós na cabeça (somos),
Nós no coração (são),
Nó na garganta...
Tem dia que nada adianta!!!
(nem mesmo oração)

Tive um pesadelo terrível, onde meu Silêncio dormia numa cama ruidosa, sob lençóis histéricos; acordava aos berros afônicos, e desmemoriado... Só(!) que não perdi nenhuma dessas memórias... Saí em disparada e cheguei a um lugar onde não encontrei absolutamente nada. Um dia, quem sabe, eu “ai!!!” de me conformar com as Dores do Mundo. Hoje, só quero um conformimsmo: onde me confronto, me conforto, e me conformo em viver sob meu próprio julgo.


Luto, pra mim, sempre foi verbo, e verbo é Palavra; mas hoje, me encontro quase sem elas. E acho o cúmulo encher os túmulos com acúmulos nulos... Vazios que preechem lugares, e pesam absurdamente... Uma ova!!! O espaço espesso onde escondo meus sentimentos e mistérios não se parece em nada com uma cova!


É... As Runas não me falaram dessas ruínas. O Tarô não me avisou desse pavor. Os Búzios não mostravam tantos rostos macambúzios, e as Bolas de Cristal não me refletiam assim, tão mal.

Hoje, sou flor que, sem solo ou com solo, só busca um consolo.

Perto disso tudo, a Imensidão é pouco, não passa de miragens mesquinhas e inacabadas. Tenho a determinação do Louco, e a coragem da Rainha de Espadas, mas o que mais preciso agora não tem nem nome. E se tiver, nem desconfio de qual seja. 

A questão é: por que quando eu mais preciso de mim, eu nunca estou aqui??? Oscilo entra a culpa plena, a esperança ingênua, e a inocência contumaz a me guiar. Mas quanto mais eu sinto pena, menos asas tenho pra voar...


Queria ser um rio corrente, mas não mais rio, só arrasto corrente. Foi um rio que alagou a minha vida; e corre morro acima, enquanto eu morro até na rima.

Ontem, tive as chances que não tenho mais hoje. As cobranças de ontem me renderam as mais duras críticas de hoje. Os enganos de ontem são sentenças no hoje. E a beleza de ontem morreu na feiura de hoje... Mas, o perfeito que não nasceu ontem é o grande feito de hoje. A culpa de ontem é a cura de hoje. E a surra que meu corpo levou ontem fez minha Alma aprender a abraçar hoje.
 


Muita água, e muito silêncio...
Muitos mundos mudos, e ruídos! 
Pedras soltas, Palavras presas... 
Represas torturando os risos foragidos!

Mas sou VITÓRIA-Régia, e em meu aguaceiro vou me sustentar, me deslocar, e chegar onde muitos nem sabem se um dia estarão.


Sigo sendo a eterna 
PRIMAVERA
Aquela que ainda espera, 
E que em breve, todos 
VERÃO!

"A Primavera chegará mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite em calendário, nem possua jardim pra recebê-la" (Cecília Meirelles)

Nunca posso deixar de agradecer, profundamente, à dupla-dinânica Ely e Ana Jú; e nesse ensaio, também agradeço especialmente às duas ajudantes-extras, Tia Paçoca e Mammynúscula.
(Locações - Condomínio Laje de Pedra e Ruínas do Cassino)
*
~PAI~
*
Esse é meu primeiro aniversário sem você, e esse é o primeiro post que você não lerá, e não fará seus tradicionais elogios, e eventuais críticas. Tua morte física matou muita coisa em mim, menos tudo aquilo que há tempos eu quero (e preciso) que morra... Matou sobretudo o prazer que sempre tive em comemorar essa data, que já começava com "Parabéns" à meia-noite, fosse presencialmente ou pelo telefone. E os últimos 4 foram presenciais... 

Hoje, faz exatamente 1 mês que nos vimos, falamos e nos abraçamos pela última vez. Você partiu 3 dias depois, mas aquele dia dos pais foi oficialmente a grande ruptura; e de alguma forma ali, eu me anestesiei... Agora, busco insanamente pela mesma anestesia, que nem a Poesia está conseguindo me dar. 

Eu e Clarice suamos pra conseguir juntar essas Palavras, porque nenhuma delas realmente se capacita pra expressar com exatidão tudo isso. Só mesmo o Silêncio, só mesmo o Vazio. E pra ambos, só a própria palavra em si. 

Silêncio se basta, 
Vazio se resume, 
E a Dor... 
Ah, nem ela 
Pode falar de si
Sem querer morrer também! 

Duro ter que continuar, sentindo o que não faz sentido... Seguir sentindo que falta um braço, uma perna, um olho, um lábio, uma orelha, uma mama... Ninguém deveria sentir uma Falta, porque ela, por si só, não existe. A Falta significa que algo não está ali. Mas a falta é um vazio sentido como Dor. O Vazio dói, o Vazio pesa. E eu achando que estava sofrendo tanto no aniversário passado, quando era assombrada por fantasmas, velhos e novos, e fazendo mágica pra que você seguisse sem saber de nada, pra não se preocupar... Eu realmente não sabia o que era sofrer. Eu realmente não sabia o quanto a Primavera poderia se disfarçar de Inverno. O que os inimigos fizeram comigo há 20 anos, e no ano passado, foram um mero ensaio... Nada nem ninguém provocou em mim tamanha Dor. Eu definitivamente não sabia o que era isso. E preferia ficar sem saber. Pegava de volta na hora todo aquele passado, em detalhes, se me garantissem que eu não passaria por esse "presente de grego". Porque a saudade que senti há um ano virou um efêmero segundo, em total segundo plano... 

Em breve, o primeiro aniversário de casamento que não haverá, o primeiro natal sem o Papai Noel legítimo, a primeira virada de ano A3, o primeiro aniversário da minha mãe sem você, os 50 anos da minha irmã, o primeiro dia dos namorados, o primeiro aniversário seu, o primeiro dia dos pais (que será sempre duplamente marcante), e o primeiro ano completo sem a TV no último volume, as conversas sobre política, as piadas, os planos e orgias gastronômicas. 

Você não sofre mais, e isso me conforta, mas não ameniza em nada a ausência. Teu cheiro ainda está por todo este apartamento que estamos desmontando. Eu já dormi na sua cama, almocei no teu lugar da mesa, tomei banho no seu banheiro, e tentei descansar na sua poltrona. Até agora náo sei se isso me foi bom ou ruim. Hoje, um a um, os móveis estão sendo vendidos, suas roupas já foram doadas, e algumas das suas fotos estão sendo encontradas aos poucos... Que em meio a elas, eu me reencontre também. Ao menos algum pedaço, que seja. Porque completa, claro, jamais serei outra vez. 

A tua bruxinha vai sair todas as noites de vassoura a te procurar, e, por favor, tente me achar!!!

Um beijo da sua "buzurundunga" de 44 anos agora, que não soprou velas sobre um bolo porque essa é a última luz que lhe resta, e ela não pode deixar apagar... 

Meu melhor amigo, só espero que você esteja na paz que sempre mereceu. 

Obrigada por tudo! 

Até o reencontro... 

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