~SOBRE.VIVER~
~BR040 / KM 3~
...Entro no novo percurso! O trecho é sinuoso, e o carro está em pane elétrica, com pneu furado, step descalibrado, lataria amassada, pintura arranhada, com o freio-de-mão puxado, e, ainda assim, rodando na velocidade máxima permitida. A minha Paciência tem pressa, e só quer achar a saída!!!
Entro no novo percurso, mas ainda vejo pelo retrovisor os 365 trechos anteriores e seus buracos, os quebra-molas sem prévia sinalização, os pedágios caros (de apreço em passar, e de preço a pagar), e a falta de acostamento em curvas de acentuados declives. Ainda vejo motoristas mascarados: uns me seguindo, outros me perseguindo; uns me guiando, outros me abandonando... Mas ainda há tantos passando ao redor, em ultrapassagens que mudam meus horizontes a cada minuto.
Mas entro no novo trajeto já vendo também postos de reabastecimento (e simples conveniência), atalhos onde vale uma parada pra sentir e admirar o Vale e suas paisagens deslumbrantes; e, antes de mais nada, agradecer por chegar até aqui, conduzida pela Sobrevivência...
Sobrevivi a um desastre ainda na DF230, e fui obrigada a sair da pista e desbravar matas fechadas, construindo uma Estrada própria na busca por novos caminhos. Foram tantas árvores derrubadas, e outras que serviram de abrigo a me salvar. Foram tantas pedras removidas, e outras que pavimentaram espaços onde ainda havia perigo de derrapar. Até que uma clareira se abriu no mato, e eu vi lá do alto um asfalto com vista para o Infinito, e por ele eu parti.
Cansada de ser só uma sobrevivente, a guria desbravou uma linda jornada rumo à Terra dos Viventes. Cansada da garoa fria da Distância e da Tristeza, se bandeou pros lados desse banhadal de Abundância e Beleza, se aprochegou aos seus pés, e ali ficou!
Sim, a guria aprendeu que sobreviver nem sempre é sobre Viver... Às vezes, é apenas estar sobre um viver de sentido limitado ‘entre um céu e um chão-batido’ (ou apanhado!); é estar sobre um punhado de terra onde muito se enterrou, e pouco floreceu.
Sobreviver é estar sob a Luz, mas encaixotado no Breu!!!
Sobreviver é perder bem mais que ganhar. É ir parando de se abrir, e cada dia mais se fechar. É ser um casulo dentro de um labirinto dentro do próprio peito. É ser uma concha-de-retalhos, fechada nos nós dos próprios Farrapos S.Ó.S. É um coletivo de espaços feitos por pedaços de escuridões.
Sobreviver é se olhar no espelho e não saber se o que se vê ali é o resto de um rosto ou o rosto de um resto. Metades onde uma sente saudades de si, e outra do “e se...”, se fazendo perguntar “aonde foi que nos perdi???”.
Sobreviver é ver o Tempo passar, e entender que nunca se passa por ele imune, impune ou incólume. É vê-lo ensinar que (TU)do nem sempre irá encaixar (pelo menos não na mesma hora, e nem no mesmo lugar). É testemunhá-lo mostrando que ele não sabe parar e nem voltar, mas que nunca obrigou nada nem ninguém a fazer o mesmo! Qualquer um pode voltar atrás, seguir adiante, ou simplesmente estacionar. É aprender que tudo ele revela, mas nem tudo releva, e muito menos pode sempre curar. Há coisas que o Tempo te apaga da memória porque leva consigo, mas há coisas que viram História, em livro ou em jazigo, porque, algumas vezes, ele só sabe eternizar... Sobreviver é enfim compreender que o Tempo nunca te tira a Importância, só te faz perceber (e aceitar?) que ela nunca existiu!
Sobreviver é administrar dilemas. É receber uma peça do quebra-cabeça por vez, e perder algumas no meio do caminho, levando quase uma Vida pra recuperar. É ver que algumas peças são coloridas, mas tantas são apenas escuras, num degradê de matizes em decomposição, fazendo borrões... Sobreviver é subir e descer degraus de degradações!
Mas o sobreviver existe, mesmo, pra gente (re)aprender a Viver!!!
Porque sobreviver é permissão, já viver é ter Missão.
Sobreviver é descobrir quem não te quer mais por perto. Já viver é lutar pra permanecer, por achar que ainda vale a pena, e tudo pode dar certo... Viver é dizer Sim e Não de verdade, seja na dureza ou com flexibilidade. É tropeçar ladeira acima. É voar em plena queda. É renascer em um trabalho de autoparto, diário, cheio de contra(di)ções. É se esconder em evidência. É ter dúvidas enfáticas. É criar uma dança estática de movimentos PARE!s e sentimentos ímpares – que veem sentido no que sequer pôde ser imaginado. É saber-se um defeito perfeito. É se revoltar, soltar, e voltar, porque é assim que tudo se resolve.
Viver é colecionar cada pecado que Deus absolve!
Viver é nomear-se o próprio porta-voz. É ver cadeiras e pessoas ocupadas, mas não desistir. É não ter rosto, ombro, nem colo, e ainda assim resistir. É não haver onde achar o que procura, mas não desistir. É escolher pra onde, como e com quem prosseguir. É decidir que pode, quer, merece, e então conseguir.
Viver é fazer a Magia ressurgir!
Sobreviver é se defender do Ódio, enquanto viver é habitar no Amor. Sobreviver é o choro mais doído do verbo chorar. Viver é a doação mais doida do verbo doar. Sobreviver é o pesadelo mais profundo do verbo dormir. Viver é o sonho mais lúcido do verbo acordar.
Sobreviver representa algo que só o Viver faz partir ou ficar!
Sobreviver é só querer um descanso na tenda, enquanto viver é construir e contar a própria Lenda. Sobreviver é elaborar explicações, enquanto viver é ser a eterna pauta dos diálogos das Emoções. Sobreviver é negar o acontecido. Viver é resgatar o que nunca poderia ter (se) partido. Sobreviver é construir um barco em plena tormenta, mas viver é remar e rumar conforme a bussola orienta. Sobreviver é ensurdecer com um simples sussurro. Já viver é amanhecer mesmo no escuro.
Viver é sobreviver em SI; sem DÓ, sem RÉ, com SOL LÁ e aqui!!!
Porque sobreviver é ser selvagem, mas viver é ter a coragem: de ‘agir com o coração’. E meu Coração segue bom, segue cheio de esperança, flores, poemas e feitiços de Amor. Sobreviver, apenas, estava me matando aos poucos. Eu vivia de luto, entre o alvorecer e o luar, sem ninguém ter morrido além de mim; mas meu coração não sabe morrer (muito menos, matar)!!!
Mesmo assim, quando eu me for desta vez, me queimem como tantas vezes alguém já fez, e, por favor, me deixem aqui, aos pés de Deus em estado líquido! Aqui, onde o Verbo gravou epitáfios de Salem, e o Vento carregou (para o) Além-Mar... Pois quem diz que Canela não tem praia é porque não conhecer o mar de Amar onde eu vivo a mergulhar!
Sobreviver é, sobretudo, agradecer e abençoar o Viver.
Então, abençoada seja a dádiva de sobreviver a mais um dia... Se você acordou hoje, você sobreviveu. Mas será que também viveu? Só comeu ou também saboreou? Viu ou apenas olhou? Só tocou com carinho ou realmente amou?
Eu te vi, e te amei; pois vivi muito além de sobreviver... Então, hoje eu te abençoo, e te agradeço, AMIG@: minha grande fonte de Amor e Poder, meu eterno voo, minha licença pra ser absolutamente tudo que sou!
Que sigamos, juntos, pelos próximos 364 trechos... Porque ´Os Ventos da Mudança´ já sopram sobre todos nós!
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