~ÉBANO AZUL~
O dia sempre raiava, e a raiva da Escuridão se esvaía... Abria a janela azul e ao longe, tudo via: céu azul, montes verdes, pássaros, bichos e um imenso rio a correr... A Escuridão voltava, ainda que um pouco mais tarde, mas minha janela dormia aberta. Eu nunca temi a Escuridão!
O dia sempre raiava, e a raiva da Escuridão se esvaía... Abria a janela branca, com leve camada de poeira, e ao longe, tudo via: o céu com algumas nuvens, montes quase sem folhas, pássaros pousados em galhos meio secos, e o médio rio com natureza morta a nadar em si... A Escuridão voltava, agora um pouco mais cedo, mas minha janela dormia semiaberta. Eu não temia a Escuridão!
O dia sempre raiava, e a raiva da Escuridão já não se esvaía totalmente... Abria meia janela cinza, com lascas de marteladas, e ao longe, quase nada via: o céu era nebuloso, os montes não estavam mais lá, muitos pássaros dormiam, bichos gemiam, e o pequeno rio estava quase parando... A Escuridão voltava em poucas horas, e minha janela se cerrava por dentro. Eu já era refém da Escuridão!
O dia sempre raiava, e a raiva da Escuridão já dava gargalhadas... Abria o ferrolho da janela negra, mas não a empurrava, pois ao longe, mais nada via: o céu sumiu, os montes sumiram, os pássaros sumiram, e o rio congelou... A Escuridão reinava, e minha janela, já cerrada por dentro, agora era cerrada por fora, e aos poucos serrada por inteiro. Eu já era cúmplice da Escuridão!
O dia sempre raiava, e a raiva da Escuridão voltou a atormentar... Coloquei uma cortina azul na janela, agora remendada; pintei-a de branco novamente, aquarelei um sol e uns montes verdes, e comecei a desparafusar as trancas. Perto, bem de perto, já via pássaros, bichos e o rio voltando a correr... A Escuridão saiu da cama e entrou em coma. Eu me divorciei da Escuridão!
O dia sempre raiava, e a raiva da Escuridão a fez sucumbir... Clareei o azul da cortina, arranquei as travas, abri as duas abas, e ela voltou a ser Azul totalmente; e ao longe, tudo, e muito mais, via: arco-íris, incontáveis flores, frutos, cachoeiras, coelhos, ovelhas, gatos e cães... A Escuridão fugiu pela minha janela nova, e caiu na cova... Eu sepultei a Escuridão!!!
Maria Eduarda Novaes
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