segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O Colecionador de Amnésias




E tudo o que lhe restava era aquele cantinho de parede quase em ruínas, marco zero de uma rota de fuga que ele não se lembrava mais onde ia dar. Ele tocava cada centímetro buscando ler nos rejuntes descascados alguma pista que o ajudasse a não se perder ainda mais. Vivia ali uma solidão vigiada, onde observava os transeuntes baterem ponto nas cercanias a expectá-lo, a apostar se havia enfim chegado o dia em que ele daria um passo a frente... Mas tudo o que lhe bastava era colecionar ali indícios a serem decifrados no momento seguinte! Uma pétala de rosa morta fora posta ali por quê? E há quanto tempo jazia a resistir ao vento, às chuvas, aos dedos intrometidos dos transeuntes? Aquele pedaço de papel verde com marcas de batom havia chegado depois de qual noite? E de qual boca ele provinha? Ele se esqueceu de tudo, e funcionava naquele automático que diariamente o carregava cego, surdo e mudo até ali, e tão somente até ali. Esqueceu nomes, telefones, cores e formas, só não se esqueceu do medo de avançar, pois o medo insistia em acompanhá-lo independente do porquê... 

Até que um dia, no comecinho do fim de um ano qualquer, as horas decidiram acordá-lo mais cedo, e o vento enfim moveu aquela pétala morta, e de quebra também o seu medo tosco. O vento carregou aquela folhagem e empurrou aquela coragem antes em coma profundo. E atrás daquelas árvores, túmulos. E dentro daqueles túmulos, memórias. Lembranças soterradas, resumidas a nomes e datas, cobertas com flores mortas, algumas sucatas, e nada mais. Os transeuntes aquele dia circulavam por lá. Cada um desencavando suas memórias e buscando enterrar outras que não lhes serviam mais. E os papéis então se invertiam. Era ele, e tão somente ele, o expectador daquele intercâmbio vazio, um surto coletivo diante de fatos que gostariam de ver desmentidos... 

Até que ele se lembrou justamente disso: do quanto algumas lembranças pedem para ser esquecidas, pois não sabem ser futuras; urgem pelo próprio fim assim como as dores clamam por suas curas... E dali ele seguiu, em marcha a ré, contra o vento, de volta ao ponto de partida. Posto que tudo o que lhe bastava era seu reconfortante acervo de Inexistências, a tornar eternamente faltante aquela que vinha a ser sua maior Ausência!

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Eu te Rejeito, 
Em nome do Bento Pai, do Doce Filho, e do Espírito Santo

  
   
 

Eu te Rejeito 
E te exorcizo 
Em nome da Santa Cruz

Tendo a meu lado 
A população mineira em ação, 
Eu te Rejeito
Maldita mineração! 

E mesmo sob a Regência triste 
De uma araponga, 
A barra vai ser dura, pesada 
Vai ser uma Barra Longa 
Mas eu barro teu barro em Oração! 

Eu te Rejeito
Eu te combato, 
Precita omissão! 

Se o fundo do teu poço tem Fundão 
A jorrar lama que varre a Mata 
E também mata Mar & Ana 
Lama que espalha 
Todo tipo de podridão, 
A barra vai ser dura, pesada, 
Vai ser uma Barra Longa, 
Mas eu barro teu barro em Oração! 

Eu te Rejeito
Tu e este teu Marco que não Vale nada! 
Que se priva de prevenir 
E mais ainda de remediar tua pobre Mãe, 
Por ti soterrada, mas não vencida... 
Rejeito quem com Ferro fere 
E com Mercúrio, piora a ferida! 

De que Vale mesmo privatizar? 
Vale tudo até não restar nada! 
Vale transformar um leito fecundo 
Num estreito moribundo 
De cada espécie devastada! 

De que Vale mesmo privatizar? 
Vale transformar o Mundo no Imundo; 
E o que é de todo mundo, 
Numa verdadeira 
PRIVADA!


maria eduarda novaes